...nós Açorianos, não temos medo que o mar nos alague nem que a terra nos engula, porque é certo que a Terra é curta... e o Tempo mais curto ainda.
quarta-feira, 26 de julho de 2006
Açores
Furnas - S. Miguel
As furnas são nossas.
As pipas do vinho são nossas,
As carroças do peixinho nossas,
O leite das tetas que ordenhamos,
As pontas com poucos faróis,
Os caminhos seculares mal calçados.
Os chafarizes com um tapete de bosta quente cheiram bem.
Vamos revoltar as ilhas: eu tenho lá ossos de pai e mãe
Sujo seria se não acudisse ao chamamento
Vitorino Nemésio
Ser Azul
Pintado na marina da Horta por Anticiklone em 1994
Parte-se com a mala cheia de saudades do que há-de vir, com uma vontade imensa de chegar ao destino.
Parte-se numa viagem pequena mas eterna, tal é o desejo de rever tudo e todos: os lugares, as paisagens, as pessoas...os amigos.
De ver o azul e o verde.
De ver os olhos que os iluminam.
De chegar, ficar e ser azul!
Quando se chega, tudo está igual, mas parece sempre mais bonito, mais azul. Revêm-se lugares e pessoas, matam-se as saudades e rápidamente se esquece tudo o resto, vivendo só o presente e saboreando cada momento o mais que se pode.
São os dias na praia com o sol e os amigos, com a beleza do mar, são os retornos crepusculares da praia e as noites convivendo com amigos e saboreando a frequente estrela cadente.
E é isto que é tão bom e especial?
É isto e muito mais!
É a fusão de um grupo de amigos com uma ilha que tem tudo para lhes dar. Um grupo de pessoas aparentemente com pouco ou nada em comum mas que no fim, nesta ilha azul, se unem e se divertem, pois sabem aproveitar o que ela tem de melhor para lhes oferecer.
Que mais se pode dizer?Num cenário azul e verde, onde mantos de hortências cobrem a terra, o Pico beija o céu, e o mar, ora calmo ora enraivecido, se estende para lá do que os nossos olhos conseguem ver, há alguém que sabe o valor do que o rodeia e faz por o merecer, não se cansando de olhar à sua volta, admirando cada pormenor que vê, cheira ou sente.Pode ter nascido em qualquer parte do mundo, viver ainda mais longe...mas se gostar desta terra e souber apreciá-la, seja de que maneira for, então esse alguém é filho da ilha azul.Então é azul!
Escrito por Lara Barreiros - 1993
terça-feira, 25 de julho de 2006
Em Ti
Foto by Purity
No teu afago conheci o carinho
No teu gesto a mansidão
No teu olhar sinseridade
No teu sorriso o paraíso
No teu calor paixão
No teu carinho ternura
No teu colo abrigo
No teu jeito delicadeza
No teu rosto beleza
No teu zelo conforto
No teu amor felicidade
adaptado de Lorenzo
dedicado a L.
domingo, 23 de julho de 2006
Nalgum Lugar Perdido
Foto by Manuel Petry
Olhar-te um pouco
Enquanto acaba a noite
Enquanto ainda nenhum gesto te magoa
E o mundo for aquilo que sonhares
Nesse lugar só teu
Olhar-te um pouco
Como se fosse sempre
Até ao fim do tempo, até amanhecer
E a luz deixar entrar o mundo inteiro
E o sonho se esconder
Nalgum lugar perdido
Vou procurar sempre por ti
Há sempre no escuro um brilho
Um luar
Nalgum lugar esquecido
Eu vou esperar sempre por ti
Enquanto dormes
Por um momento à noite
É um tempo ausente que te deixa demorar
Sem guerras nem batalhas pra vencer
Nem dias pra rasgar
Eu fico um pouco
Por dentro dos desejos
Por mil caminhos que são mastros e horizontes
Tão livres como estrelas sobre os mares
E atalhos pelos montes
Nalgum lugar perdido
Vou procurar sempre por ti
Há sempre no escuro um brilho
Um luar
Nalgum lugar esquecido
Eu vou esperar sempre por ti.
Mafalda Veiga - dedicado a L.
Amor
Foto by Trine Cirnes
Se os olhares se cruzarem e nesse momento houver o mesmo brilho intenso entre eles, fica alerta: pode ser a pessoa que estás à espera desde o dia em que nasceste.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos se encherem d'água neste momento, percebe que existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do dia for para essa pessoa, se a vontade de ficarem juntos chegar a apertar o coração, agradeçe: Deus mandou-te um presente divino: o amor.
Se um dia tiveres que pedir perdão ao outro por algum motivo e em troca receberes um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entrega-te: vocês foram feitos um para o outro.
Se por algum motivo estiveres triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o teu sofrimento, chorar as tuas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: poderás contar com ela em qualquer momento da tua vida.
Se conseguires em pensamento sentir o cheiro dessa pessoa como se ela estivesse ali ao teu lado... se a achares maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...
Se não consegues trabalhar o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado à noite... se não consegues imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem essa pessoa ao teu lado...
Se tiveres a certeza que vais ver essa pessoa envelher e, mesmo assim, tiveres a convicção que vais continuar louco por ela...é o amor que chegou à tua vida. É uma dádiva.Muitas pessoas se apaixonam tantas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Ou às vezes encontram e por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.
adaptado de Carlos Drummond de Andrade
Conta Comigo
Amar-te-ei
enquanto o Sol brilhar na terra,
eu bem sei que te amarei
mesmo que o ódio e a guerra sejam lei.
Enquanto houver um sinal
dado pela chama do amor,
seja onde for
estarei contigo
serei o teu abrigo,
conta comigo
para o que der e vier.
Amar-te-ei
enquanto o coração puder amar,
eu sei que te amarei
mesmo que as nuvens
façam sombra sobre o mar.
Sempre que vir nos teus olhos
lágrimas quentes a rolar,
estarei contigo
serei abrigo
só para te embalar.
Amar-te-ei
enquanto o azul do céu for puro,
eu bem sei que te amarei
mesmo se um dia ficar escuro.
Sim, eu sei
que enquanto houver um sinal
dado pela chama do amor
seja onde for,
conta comigo,
serei o teu abrigo,
estarei contigo.
Luís Pedro Fonseca
dedicado a L.
sábado, 22 de julho de 2006
Passagem
Foto by Pedro Malheiros
O tic-tac do coração calara-se derrepente. O ponto luminoso que desenhava uma linha quebrada no monitor suspendera-se, quieto.
Uma linha recta assinalava o instante exacto em que o coração deixara de bater. Do fundo do coma onde estava mergulhado há dias, ouviu distintamente o silêncio das máquinas logo seguido dos alarmes irritantes. Viu-os correrem para a sua cama e prepararem o carro de reanimação. Viu toda a agitação e alvoroço dos seus gestos, em contraste com a absoluta calma que ele experimentava. Sentiu ternura por todos os que ali se preocupavam assim consigo. Apeteceu-lhe dizer-lhes que morrer não era afinal tão difícil.
Estava morto há uns cinco minutos quando chegou a médica. Mesmo de olhos fechados ele via tudo, mesmo morto, ouvia as vozes, sentia tudo e mais extraordinário ainda, conseguia ler-lhes os pensamentos.
Persebeu o que a médica lhe dizia em pensamento: “Vou tentar trazer-te de volta à vida, mas não sei se consigo e nem sei se é isso que queres. Neste instante estás morto e sabes infinitamente mais do que nós. Só tu sabes, mas não me podes dizer, se queres continuar a viver ou se queres ficar em paz. Perdoa-me se isto força a tua vontade”.
Encostou-lhe os eléctrodos ao peito, e deu-lhe uma descarga contínua e profunda. Pareceu-lhe que o peito tinha rebentado, a dor foi atroz e ele gritou por dentro, sem mover a boca. Depois, no silêncio que se tinha feito na sala, recomeçou a ouvir outra vez o mesmo tic-tac monótono de um coração a bater e era o seu.
Ela tinha-lhe interrompido a morte. Havia um destino traçado e ela trocara-lhe as voltas.
in "Não te deixarei Morrer David Crocket" de Miguel Sousa Tavares
Poema da Malta das Naus
Lancei ao mar um madeiro,
espetei-lhe um pau e um lençol.
Com palpite marinheiro
medi a altura do Sol.
Deu-me o vento de feição,
levou-me ao cabo do mundo,
pelote de vagabundo,
rebotalho de gibão.
Dormi no dorso das vagas,
pasmei na orla das praias,
arreneguei, roguei pragas,
mordi peloiros e zagaias.
Com a mão esquerda benzi-me,
com a direita esganei.
Mil vezes no chão bati,
outras mil me levantei.
Fundei cidades e vidas,
rompi as arcas e os odres,
tremi no escuro da selva
alambique de suores.
Estendi na areia e na relva
mulheres de todas as cores.
Moldei as chaves do mundo
a que outros chamaram seu,
mas quem mergulhou no fundo
do sonho, esse, fui eu.
O meu sabor é diferente.
Provo-me e saibo-me a sal.
Não se nasce impunemente
nas praias de Portugal.
António Gedeão
As Ilhas
Faial - S.Jorge - Graciosa
Foto by Anticiklone
Navegámos para Oriente -A longa costa
Era de um verde espesso e sonolento
Um verde imóvel sob o nenhum vento
Até à branca praia cor de rosas
Tocada pelas águas transparentes
Então surgiram as ilhas luminosas
De um azul tão puro e tão violento
Que excedia o fulgor do firmamento
Navegado por garças milagrosas
E extinguiram-se em nós memória e tempo
Sophia de Mello Breyner
sexta-feira, 21 de julho de 2006
Ilha Montanha
Pico
Minha ilha sem bruma
Sem distância a percorrer
Onde o vento é o donatário
Único senhor e rei
Sem eu mesmo o saber.
Ilha Maior no sonho e na desgraça
Sempre a acenar a quem ao longo passa
Nos navios rumo ao Canadá e América.
Ancoradouro de aves, poetas e baleeiros,
Heróis sem nome, com um pé em terra e outro no mar,
Quantas vezes em vão a balear.
Negra, negra, negra e cativa
Ilha Maior, minha Ilha-Mãe adoptiva,
Maravilha de lava e altura!
El-rei Sebastião, o Desejado,
Veio um dia, nunca mais voltou.
E é aqui, cavada a seu lado,
Que eu quero ter a minha sepultura.
Almeida Firmino
Poema
O céu, azul de luz quieta.
As ondas brandas a quebrar,
na praia lúcida e completa.
Pontas de dedos a brincar
no piano anónimo da praia.
Tocam nenhuma melodia
de cujo ritmo por fim saia
todo o sentido deste dia.
Que bom se isto satisfizesse!
Que certo, se eu pudesse crer
que esse mar e essas ondas e esse
céu tem vida e têm ser.
Fernando Pessoa
Quando eu te falei de amor
Foto by Clovis Nascimento
Quando os meus olhos te tocaram
eu senti que encontraram
a outra metade de mim,
tive medo de acordar
como se vivesse um sonho
que não pensei realizar,
e a força do desejo
faz-me chegar perto de ti.
Estas linhas que hoje escrevo
são o livro da memória
do que eu sinto por ti
e tudo o que me dás
é parte da história que ainda não vivi.
Quando eu te falei em amor
tu sorriste para mim
e o mundo ficou bem melhor.
Quando eu te falei em amor
nós sentimos os dois
que o amanhã vem depois e não no fim.
André Sardet
dedicado a L.
O Pastor
Foto by Alba Luna
Quando eu não te tinha
Amava a natureza como um monge calmo a Cristo...
Agora amo a natureza
como um monge calmo à Virgem Maria,
religiosamente, a meu modo, como dantes,
mas de outra maneira mais comovida e próxima.
Vejo melhor os rios quando vou contigo
pelos campos até á beira dos rios.
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
reparo nelas melhor...
Tu não me tiraste a natureza...
Tu não me mudaste a natureza...
Trouxeste-me a natureza para o pé de mim.
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
por tu me amares, amo-a do mesmo modo mas mais,
por tu me escolheres para te ter e te amar,
os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
sobre todas as coisas.
Alberto Caeiro
dedicado a L.
Lisboa Comvida
Foto by Mário Sousa
Abri a janela de par em par
A vista é cortada pelo edifício em frente do meu
O ruído da rua é, por vezes, difícil de suportar
Mas assim sempre vai entrando algum ar
Como eu gostava de um dia abraçar
Aquela actriz que acabei de ver na televisão
Dava tudo o que tenho só para ter um cantinho no seu coração
Mas as estrelas nunca sorriem aos da minha condição
Saí do cinema tentando imitar
O modo de andar e a maneira de olhar do actor principal
Quando entrei no autocarro
Evaporou-se-me o sonho e caí em mim
As coisas são sempre tão diferentes na vida real
Às vezes sou levado a pensar
Pode haver um engano nessa coisa da distribuição
Passo os dias inteiros no trabalho e mal ganho para comer
Mas isto é um problema meu
E eu devo ser capaz de o resolver
Vivo em Lisboa
Tu sabes bem quem eu sou
Eu sou aquele com quem tu te cruzas
Numa esquina qualquer
E, às vezes, também tomo comprimidos
Para conseguir adormecer
Vivo em Lisboa
Tu conheces-me bem
Também eu tenho um lugar reservado
Neste eterno vaivém
Sou mais um cartão numerado
Que a cidade retem
Jorge Palma
Balada do Final de Turno
Foto by Mário Castro
Caminhou pelo longo corredor do hospital em direção à saída. Devia ter saído às nove, mas há sempre a vontade de deixar a sala “limpa” para quem entra de serviço, um RX para ver ou mais um pormenor a contar sobre o doente que ainda fica em observação.
Junto à saída, a máquina convida a um café revigorante, mas...as mãos constactam a ausência de qualquer moeda no fundo dos bolsos. É sempre assim quando precisamos delas.
Finalmente ultrapassou a última fronteira e mergulhou na noite.
Inspirou profundamente para lavar os pulmões com ar fresco e não condicionado. Olhou para o alto, para que os olhos se acostumassem a ver mais além do que os dez metros das últimas doze horas. O céu dá-lhe tranquilidade!
Primeiro vem o alívio...a sensação de dever cumprido, o sentimento de fechar uma porta e ter outra, imensa e mais feliz, para abrir. Em breves segundos passam-lhe pela lembrança todos os casos do dia, a dor do enfarte, a agonia da falta de ar, a sentença do cancro, a frustração da linha isoeléctrica...
Depois vem o cansaço súbito. Todos os músculos do seu corpo relaxam da adrenalina do dia, e então sobe-lhe uma súbita falta de força que invade até o mais recôndito canto da alma.
Desejou o duche morno que lhe há-de fazer desapegar da pele todos os dramas clínicos e humanos do dia, lavar-lhe a alma de toda a dor, grito e sofrimento alheios. E tal como a mulher violada se lava para esquecer o inesquecível, ele anseia esquecer a doença e a morte que sabe serem seus conviventes sempre, até à sua própria morte.
Depois imaginou a casa vazia à sua espera, a necessidade de fazer jantar...talvez devêsse ir comer um qualquer prato do dia por aí, mas não lhe apetece sentir a solidão desses sítios. Decide ir para casa...se não tiver força de vontade para cozinhar, ficar-se-á pela sopa congelada ou na pior das hipóteses por uma sandes com o pão de ontem.
Continuou a antecipar o silêncio da casa, o sofá da sala e a almofada para repousar o espírito. Pensou que as coisas deveriam fazer mais sentido do que esta surpreendente disparidade entre tratar outras vidas e gerir a própria vida.
Continuou a caminhar dolorosamente pelo parque de estacionamento. Alcançou o carro, sentiu o prazer masculino de pegar no volante, girou a chave na ignição e concluíu: “Que se lixe...foi só mais um dia igual aos outros”.
quarta-feira, 19 de julho de 2006
terça-feira, 18 de julho de 2006
Feitiço
Eu gostava de olhar para ti
E dizer-te que és uma luz
Que me acende a noite,
Me guia de dia e seduz...
Eu gostava de ser como tu
Não ter asas e poder voar
Ter o céu como fundo,
Ir ao fim do mundo e voltar...
Eu gostava que olhasses
Para mim
E sentisses que sou o teu mar
Mergulhasses sem medo,
Um olhar em segredo,
Só para eu te abraçar...
Eu...
Eu não sei o que me aconteceu...
Foi feitiço!
O que é que me deu?
Para gostar tanto assim de alguém
Como tu...
André Sardet
dedicado a L.
segunda-feira, 17 de julho de 2006
A Nossa Música (2)
Estou de volta pro meu aconchego
Trazendo na mala bastante saudade
Querendo
Um sorriso sincero, um abraço,
Para aliviar meu cansaço
E toda essa minha vontade
Que bom,
Poder tá contigo de novo,
Roçando o teu corpo e beijando você,
Prá mim tu és a estrela mais linda
Seus olhos me prendem, fascinam,
A paz que eu gosto de ter.
É duro, ficar sem você
Vez em quando
Parece que falta um pedaço de mim
Me alegro na hora de regressar
Parece que eu vou mergulhar
Na felicidade sem fim
Elba Ramalho
Post by L.
Marinheiro em Terra
Foto by Alfredo Monteiro
Um deus errante atravessou o vale
Com suas vagarosas sandálias de silêncio.
Não tinha rosto nem voz
Nem o corpo leve e ondolante de alguém
Que viesse anunciar prodígios.
Sentou-se numa pedra,
Dedilhou o seu violino de ventos
E deixou na luz rósea do poente
O rasto transparente de duas mãos
Amparando o dia que findava.
Indefeso como a brisa, conta-se,
Perdeu-se pelo rumor das sombras
Que desciam dos mais altos cedros da colina.
Tinha, sei-o, os olhos lúcidos e tranquilos
Dum catalogador de naufrágios.
Hugo Santos
Desejo
Porto Pim - Faial
Tem a medida do meu ser: três montes a protegê-la e uma única abertura para o mar...infinito.
Ali brinquei, cresci, amei e me fundi com o mar. Ali chorei e ri, ganhei e perdi. Dali parti e ali chegarei.
Ali inevitávelmente desejo encontrar-me com ela um dia...com mais ninguém
Inicial
Foto by Anticiklone
O mar azul e branco e as luzidias
pedras - o arfado espaço
onde o que está lavado se relava
para o rito do espanto e do começo
onde sou a mim mesmo devolvido
em sal espuma e concha regressada
à praia inicial da minha vida.
Sophia de Mello breyner Andresen
Regresso
Foto by G.Almeida
Vim por um caminho de azáleas e hortênsias
Aguardo agora, nesta varanda voltada para o mar,
A sentença dos ventos e da luz.
Terra...terra nostra. Mater chão de exílio,
Sitiado coração de brumas e nevoeiros,
Aqui me tens.
Disponível para o silêncio e o fogo,
A água e a luz, o vento e a memória.
Disponível para o assombramento e a paixão.
Hugo Santos
dedicado a L.
Acordar
Deviam ser nove horas, a julgar pelos trinados do sino no silêncio de fim de semana.
Também pareceu-me ouvir chilrear de pássaros, mas não vou jurar que eram reais...talvez fossem ainda os que ouvi na tua cama.
Virei-me à procura de ti, na secreta esperança que fosse real o meu desejo, mas o teu lado da cama estava vazio.
Fiquei a olhar a escassa claridade que a persiana deixava entrar, desenhando os nossos momentos felizes dos últimos dias. São os teus gestos, sorrisos e silêncios que me fazem feliz...são os teus sonhos que se confundem com os meus.
Então, virei-me novamente na cama e fiquei a venerar cada página do teu livro, como se me preparasse para voar...até ti.
domingo, 16 de julho de 2006
quinta-feira, 13 de julho de 2006
quarta-feira, 12 de julho de 2006
A nossa música
Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo
Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito
Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo é o meu amor
E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa
De ser criança
Da gente brincar
Da nossa velha infância
Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só
Você é assim
Um sonho pra mim
Arnaldo Antunes/ Carlinhos Brown/ Marisa Monte
dedicado a L.
quarta-feira, 5 de julho de 2006
terça-feira, 4 de julho de 2006
Escrever
Foto by Body Poetry
Quero imprimir no teu corpo
o que possuo na minha alma,
Quero ler feito um louco,
e poder contemplar com calma.
Quero tatuar as minhas emoções,
quero marcar todo o prazer,
e sobre o teu corpo permanecer,
revivendo assim esta paixão.
Assim se no teu corpo escrever,
se um dia a memória desaparecer,
nunca mais te poderei esquecer
Seja por encanto ou fantasia,
quero escrever a nossa paixão,
quero que tu e eu sejamos magia.
Não quero que seja uma ilusão.
Por tudo isso...
Quero imprimir no teu corpo
o que possuo na minha alma.
Marco Magalhães
Amar
Foto by Micael Campos
Amar é um jeito próprio de sentir....
É o jeitinho delicioso
de ter alguém que nos ouve
com paciência, e nunca dá
sinal de estar cansado
com a nossa conversa.
Surge quando menos se espera
começa nas coisas mais pequenas
no dia em que, pela primeira vez,
fazemos confidências a alguém...
ou quando ajudamos a quem precisa de nós...
ou quando, mesmo sem palavras,
alguém sabe que sentimentos
está outro alguém sentindo.
É um sentimento feliz
que fica no coração por toda a vida.
Carola
dedicado a L.
segunda-feira, 3 de julho de 2006
domingo, 2 de julho de 2006
Viver é preciso
Foto by Sergei
Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor,
vamos caindo ao chão, apodrecidos.