sexta-feira, 31 de março de 2006

Espera


Foto by Poroshkov

Dei-te a solidão do dia inteiro.
Na praia deserta, brincando com a areia
No silêncio que apenas quebrava a maré cheia
A gritar o seu eterno insulto
Longamente esperei que o teu vulto
Rompesse o nevoeiro.


Sophia de Mello Breyner

quinta-feira, 30 de março de 2006

Terras de Lava

terça-feira, 28 de março de 2006

Ilhas de Bruma

O Tejo



Madrugada,
Descobre-me o rio
que atravesso tantopara nada;
E este encanto,
prende por um fio,
a testemunha do que eu sei dizer.
E a cidade,
chamam-lhe Lisboa
mas é só um rio
que é verdade,
só um rio,
é a casa de água,
casa da cidade em que vim nascer.
Tejo, meu doce Tejo, corres assim;
corres há milénios sem te arrepender,
és a casa de água onde há poucos anos eu escolhi nascer.

Madredeus

Alvorada



Além
Cada alvorada
Eu sei
Que tudo traz
Talvez
Não seja tarde
Para quem
Queira cantar
Já não pergunto nada
Já não, não peço mais
Não tenhoPressa de nada
Nem de dizer adeus

Pedro Ayres Magalhães

Woman in Black



Foto by Luís Mateus

Estrela do Mar


Foto by julka Piter

Numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte
E em que o sono parecia disposto a não vir
Fui estender-me na praia sozinho ao relento
E ali longe do tempo acabei por dormir
Acordei com o toque suave de um beijo
E uma cara sardenta encheu-me o olhar
Ainda meio a sonhar perguntei-lhe quem era
Ela riu-se e disse baixinho: estrela do mar
Sou a estrela do mar
Só ele obedeço, só ele me conhece
Só ele sabe quem sou no principio e no fim
Só a ele sou fiel e é ele quem me protege
Quando alguém quer à força
Ser dono de mim
Não se era maior o desejo ou o espanto
Mas sei que por instantes deixei de pensar
Uma chama invisível incendiou-me o peito
Qualquer coisa impossível fez-me acreditar
Em silêncio trocámos segredos e abraços
Inscrevemos no espaço um novo alfabeto
Já passaram mil anos sobre o nosso encontro
Mas mil anos são poucos ou nada para a estrela do mar


Jorge Palma

Companheiros



Foto by Mikail Petrov

Tabernas


As tabernas do mundo têm uma luminosidade de cinza que deixa a cara dos marinheiros numa semi-obscuridade, enigmática, sem idade.
Não consigo adivinhar nada nos seus olhares turvos pelo vinho.. Nem donde chegaram nem que estrela os guiará para longe daqui. Ignoro se estão a embriagar-se, a seduzir ou a preparar alguma vingança de morte.
O ruído do porto vem definhar aqui dentro, nesta obscuridade saturada de sal e de vinho. O calor amolece os corpos. Os gestos suspendem-se e desfazem-se. Alguém, ruidosamente, bebe um trago de vinho e diz:
Este mar não é um mar como os outros, é um destino que se fecha sobre si próprio. Chegamos sempre aos lugares de partida…ou, pelo menos, assim acreditamos
Al Berto

domingo, 26 de março de 2006

A Dois


Foto by Micael Campos

Momentos únicos
Tempo escasso
Pensamentos vazios
Lua cheia
Impulsos a mil
Noite curta
Estrelas perfeitas
Clima ideal
Olhos fechados
Boca aberta
Ações singulares
Sol baixo
Mãos atadas
Som sussurrado
Palavras mínimas
Corpo trêmulo
Nós
Tu, eu...

Gosto de acordar com alguém...

Casa Branca

Foto by Luqui

Casa Branca em frente ao Mar enorme,
Com o teu jardim de areia e flores marinhas
E o teu silêncio intacto em quem dorme
O milagre das coisas que eram minhas

Sophia de Mello Breyner

Soneto da praia


Amanhã, renascidas as fontes
olhando para o grande sol poente
verdejantes, ao norte, montes
águas límpidas em sentido nascente
Ontem, areia branca e macia
céu azul sem nuvens quaisquer
sem limites, uma selva se instancia
surge a destruição que alguém quer
Hoje, momentos alegres presentes
a aparência pouco importa
amigos (se foram) ausentes
Minha alma busca resposta
pergunta infindável e morta
Vida vazia, enfim, se mostra.

Wesley Barbosa

Terras de Lava


Foto by Nana Sousa Dias

O Berço


Foto by Ricardo
Oh terra açoriana,
Mãe doce, mãos de espuma
E carícias de sal,
Ninguém te pode amar como eu te amo,
Que só amor de filho é filial...
Chamem-te muito embora Portugal...
Eu que nasci de ti
E te conheço
Sei muito bem
Qual a distância do meu berço
Ao pátrio domicílio
Original.

Autor desconhecido

Força 7

Read My Eyes


Foto by Alexander Putev

História de Verão


Foto by Lavreshkin Ilia

Uma abelha, dessas que dizem ser italianas, entrou pela janela, obstinou-se em escolher-me, pousa-me no ombro, descansa de seus trabalhos.
Lisonjeado com aquela preferência, comecei a amá-la devagar, retendo a respiração, com receio de que não tardasse a dar pelo seu engano, que cedo viesse a descobrir que não era eu a haste de onde se avistavam as dunas.
Mas o seu olhar tranquilizava, era calma ondulação do trigo.
Agora só uma interrogação perturba a minha alegria: o que farei com o seu mel?
Eugénio de Andrade

sexta-feira, 24 de março de 2006

Pai e Filho

terça-feira, 21 de março de 2006

Lisboa ComVida


As vielas de néon
As guitarras já sem som
Vão mantendo viva a tradição da fome
Que a memória deturpa e o orgulho consome
Entre o orgasmo e a gruta ainda fria
O abandonado da carne vazia
Cada um no seu canto entoa
A canção de lisboa

Jorge Palma

segunda-feira, 20 de março de 2006

Woman in Black


Foto by Roman Bambura

Marinheiro


Foto by Rui Carvalho

Sem especial paixão por terra firme
ele vive rasgando o mar,
sugando pensativamente o seu cachimbo.
Vive no meio do azul a sonhar,
contas já há muito as esqueceu,
as letras já nem se lembra de as estudar
mas de amor,
ah…de amor ele sabe falar.
Fala para si mas sabe o que diz.
Passa toda a sua vida a pensar
e as suas raras palavras,
de sábia razão e simplicidade,
nunca param de ecoar
pois no fundo,
no fundo de todo o seu pensar
pensamento é sempre o mesmo:
sou marinheiro e amo o mar


Joana T.C.

domingo, 19 de março de 2006

Pecado Perfeito

Se um dia um anjo fizer
A seta bater-te no peito
Se um dia o diabo quiser
Faremos o crime perfeito
Donna Maria

Apetece...

Foto by Jorge Fdez

Noite de Chuva



Chuva de prata que cai sem parar
quase me mata de tanto esperar
um beijo molhado de luz cela o nosso amor
Basta um pouquinho de mel para adoçar
Deixa cair o seu véu sobre nós
A lua bonita no céu molha o nosso amor

Ouve-se o Mar

Foto by Paulo Oliveira

Agora
Que a chuva cai devagar
Lá fora
E a noite vem devorar
O sol
E tudo fica em silêncio
Na rua
E ao fundo
Ouve-se o mar
Agora
Talvez te possas perder
Devora
O que a saudade te der
A vida
Leva pra longe pedaços
Do tempo
Deixa o sabor de um regaço
E ao fundo
Ouve-se o mar
Agora
Que a água inunda os teus olhos
E o mundo
Já não te deixa parar
No escuro
Voltam as estórias perdidas
Na alma
Onde não podes tocar
E ao fundo
Ouve-se o mar


Woman in Black


Foto by Sandra H

Porquê?


Aquele dia...
Aquele dia em que te vi,
pela primeira vez.
Porquê eu?
Poderia ter sido outro qualquer...

Força 7

quinta-feira, 16 de março de 2006

Terras de Lava


Foto by Rui Vieira

quarta-feira, 15 de março de 2006

A ponte é uma passagem...



Foto by Alexander Dugaev

terça-feira, 14 de março de 2006

Balada do doente terminal


A areia escorre-me por entre os dedos. Caminho pelo crepúsculo, em direcção do horizonte.
Cada grão de areia está habitado pelo espírito do deserto. Cada poro da minha pele bebe a fria luminosidade das estrelas e o arrepio da noite.
Entre o corpo que se degrada e a morte; a grande morte, a última; deve haver ou começar, outra coisa. Um lugar qualquer onde possa viver e morrer sem dor. Um lugar feliz.
Pensava eu que a felicidade deveria estar escondida naqueles momentos de perturbação em que me descobria no teu olhar. Enganei-me, passei a vida a enganar-me.
É tarde. Apago-me vagarosamente.
Deus talvez esteja no fundo do mar, na claridade das águas.
Dentro de mim sinto a melancolia da areia lavada pelo seu movimento invisível, eterno.
Al Berto

Porque há quem precisa


Foto by Rui Corte Real

Read My Eyes


Foto by Funk Christien

Punch me



Foto by Aleksej Kozak

segunda-feira, 13 de março de 2006

Que a noite venha...


Foto by Paulo César
Que a noite venha e me cubra
E que a noite seja paz
E que a paz sejas tu
E a noite o teu corpo
E o teu sono o meu sono
A tua mão na minha mão.
Que a noite
Teu corpo sólido que procuro
E onde me escondo
Seja a noite dos amantes
Corpos que repousam
E encontram um no outro
Um novo amanhecer

Evanescente

Conversas


Foto by SMZAR

Woman in Black


Foto by Vladimir Boroev

domingo, 12 de março de 2006

Poente


Há um tempo em que o tempo pára,
em que o Sol vai fazendo ouro no fim do dia,
em que a areia fica macia como seda,
em que o ar tem outro peso e outra cor.
Há um tempo de ouvir o mar chegando
morrendo devagarinho na praia,
cantando preguiçosamente o princípio da noite
e enchendo de sossego o momento mais doce.
Há um tempo de voltar para terra
de sentir o corpo doendo,
de baixar a prancha e ver o reflexo das ondas navegadas
e as que continuam por navegar.
É esse o tempo mais bonito
é esse o tempo que fica dentro de nós
é o tempo em que o mundo adormece
é o tempo que deveria ficar para sempre.

T.

Descanso Familiar


Foto by Fernando Dinis

Mulher



Foto by Ilya Shubin
Vale mais a mulher que se espera
Ou vale mais a mulher que se dá?
Nem sempre a primeira é sincera
Nem sempre a segunda é má.
Vale mais a ilusão do amor
Ou vale mais o fogo da paixão?
Por vezes a espera prolonga-se em dor
Por vezes a entrega é um acto de amor.
Vale mais viver em mentira sempre
Ou viver um momento de verdade?
A mentira destrói a alma da gente
Que se alimenta de sinceridade.
Vale mais olhar com preconceito?
Vale mais admirar cada ser
Cada mulher tem o seu jeito
Tem capacidade de surpreender
Mulher sincera e delicada
É sempre um amor de mulher
Por mim será sempre admirada
E viverá como quiser.

Autor desconhecido

Ilhas de Bruma


Foto by Ana Maria Abrão

Luzes da Noite

Boa Vida


Dia de sol sem nuvens, já a lembrar que a Primavera está quase aí!
Atravessámos a ponte, de vidros abertos e com as colunas a debitarem Jack Johnson “In Between Dreams”.
Ultrapassámos a Caparica cheia…de gente sedenta de mostrar a face aos primeiros raios de sol. Logo á frente fica a Fonte da telha, outra praia também com esplanadas, também desorganizada, também com gente em passeio de fim de semana, porém com zonas menos acessíveis e portanto mais tranquilas.
Estacionámos por lá, para lá das zonas onde param os pseudo-betos destes fins de semana. Elas de saltos atolados na areia de acesso à esplanada…eles exibindo o pólo “Lacoste” e os “Rayban” comprados no Freeport. Para ambos, o fim de semana não é um prazer…é uma exibição das suas vaidades.
Passámos á frente e caminhámos pela beira da água, para o fim do horizonte. No início ainda circulam famílias que aproveitam a praia para alargar os horizontes dos filhos, atletas quase profissionais na “corridinha na praia”, casais de namorados e de acasalados, passeadores de cães e outros que como nós, simplesmente apreciam estar ao pé do mar.
Quando essa zona populosa começou a desaparecer e a praia ficou mais “pura” sentámo-nos na areia a falar de tudo e de nada. Apeteceu-me mergulhar…mas fiquei-me pelos tornozelos, que a água até doía!
Num instante o sol começou a roçar o horizonte e logo o ar ficou mais frio, convidando a vestir a camisola de lã. È nesta altura que a praia fica mais bonita…em tons de vermelho e nós ali na esplanada, quase vazia, com as nossas camisolas de lã e uma meia de leite fumegante a aquecer-nos as entranhas.

Azul Profundo


Foto by Dagoberto

Força 7

Este Povo da Ilha


Este o povo que nasceu no mar. Veio-lhe o sangue
do sal. Suas veias boiaram outrora
entre cabeleiras de algas e fungos de basalto.
Abriu-se-lhe a boca no remoto esquecimento
dos búzios. Memória são as conchas desertas
o calhau rolado arenoso silêncio sobre rocha.
Gerado talvez entre o grito enfermo das baleia

se o rasto dos navios. Pois este o povo
se (re)conhece entre areia e mar
no preciso instante em que a pedra
e o corpo se tocam e amam
a água
E por isso os peixes

nos atravessam os olhos
a nado
Viajam entre nós

e a certeza do corpo.

João de Melo

sábado, 11 de março de 2006

Terras de Lava

Foto by Carla Maio

quinta-feira, 9 de março de 2006

Read My Eyes


Foto by Xmaya