...nós Açorianos, não temos medo que o mar nos alague nem que a terra nos engula, porque é certo que a Terra é curta... e o Tempo mais curto ainda.
quarta-feira, 27 de setembro de 2006
A cidade é um chão de palavras
Foto by Mário Sousa
A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.
A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.
A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.
A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.
José Carlos Ary dos Santos
domingo, 24 de setembro de 2006
sexta-feira, 22 de setembro de 2006
Fico até adormeceres
Foto by Rui Bento Alves
Se quiseres até nem falo
Oiço só o que disseres
Vem deitar-te no meu colo
E diz tudo o que quiseres
Fico até adormeceres
Se quiseres mando calar
O vento que vem do mar
Rasgando a noite crua
Ou então se preferires
Só para te distraíres
Eu faço dançar a Lua
Fico até adormeceres
Fico enquanto tu quiseres
Fecha os olhos se quiseres
Só até adormeceres
Se quiseres eu fico apenas
Até ver se tu serenas
A proteger-te do frio
Fecha os olhos se quiseres
Paulo Gonzo
dedicado a L.
sexta-feira, 15 de setembro de 2006
Foto by Eros
Há um tempo em que o tempo pára,
em que o Sol vai fazendo ouro no fim do dia,
em que a areia fica macia como seda,
em que o ar tem outro peso e outra cor.
Há um tempo de ouvir o mar chegando
morrendo devagarinho na praia,
cantando preguiçosamente o princípio da noite
e enchendo de sossego o momento mais doce.
Há um tempo de voltar para terra
de sentir o corpo doendo,
de baixar a prancha e ver o reflexo das ondas navegadas
e as que continuam por navegar.
É esse o tempo mais bonito
é esse o tempo que fica dentro de nós
é o tempo em que o mundo adormece
é o tempo que deveria ficar para sempre.
Foto by R Tavares
Ao cair da tarde
Penso sempre mais
E a luz que me invade
São as cores naturais
Cada figura
que passa por mim
nem me perturba
e eu fico assim
Longe me leva este silêncio
e o sentir que se altera
são as cores do sol
E eu fico encantado
e sinto-me a arder
quando o dia se apaga
fica tanto por ver
Madredeus
quinta-feira, 14 de setembro de 2006
quarta-feira, 13 de setembro de 2006
Feiticeira
Foto by Elena Vasileva
De que noite demorada
Ou de que breve manhã
Vieste tu, feiticeira
De nuvens deslumbrada
De que sonho feito mar
Ou de que mar não sonhado
Vieste tu, feiticeira
Aninhar-te ao meu lado
De que fogo renascido
Ou de que lume apagado
Vieste tu, feiticeira
Segredar-me ao ouvido
De que fontes de que águas
De que chão de que horizonte
De que neves de que fráguas
De que sedes de que montes
De que norte de que lida
De que deserto de morte
Vieste tu feiticeira
Inundar-me de vida.
Luís Represas
dedicado a L.
Partida
Ouço daqui o apito do navio.
não sei se chega se parte
mas lembra dor e despedida,
lembra cais e partida,
maré cheia a vazar…
Estranha melancolia me invade
sem que eu saiba se é dor
se é mágoa ou saudade,
se é mentira ou verdade,
se é partir ou chegar.
No meu coração
hoje
há apenas…
um navio a apitar…
adaptado de Gabriela Silva
terça-feira, 12 de setembro de 2006
Despedida
Foto by Spoken
Vi-te
a última vez
na rua vulgar,
e desde então
os nossos passos
não mais passaram no mesmo chão.
Era sol de Agosto bonito,
Daquele que abre risos
e inspira paixões.
Vieste despedir-te
com uma tristeza triste
a rolar do teu rosto até ao meu.
Num momento vi os dias todos daquele mês
que o tempo não há-de apagar.
Quis falar-te tanto
e o que disse não foram as palavras todas:
foi o que não disse.
Mas tu soubeste o que eu queria dizer
que o esquecimento só existe
se não houver lembranças.
De outro modo,
se houver recordações e sonhos
haverá sempre um momento em cada dia
em que se vêem os dias todos.
para L. numa manhã sobressaltada de Domingo...às portas de embarque
És Tu
Foto by Alcina Mil Homens
Percorro a ilha como sempre.
Mas agora sinto-me diferente...
È uma sombra surda, que caminha comigo, invisível através dos meus sítios mais secretos da ilha.
Concentro-me para falar com os azuis...mas não estou sozinho. Presinto que alguém me ouve e fico sempre à espera de outra voz surgir.
Deito-me e rebolo no verde mas não estou à vontade...suspeito que alguém me observa por entre as hortências e criptomérias.
Tacteio à procura de um rosto, de uma mão...de uma resposta!
Percebo então que és tu que andas em mim. Não te vejo nem toco mas sinto-te comigo, sempre...o tempo todo.
Partilho contigo os recantos secretos da ilha, a melhor duna para ver a lua e o melhor angulo do sol nascente. O vento da fajã já não sopra só para mim e no meu castelo secreto há agora duas janelas viradas para o mar.
Já não estou sozinho quando tomo banho à noite na praia e os garajaus já não cantam só para mim.
Levo-te à minha cascata escondida, à minha praia deserta, à torre do farol abandonado para vermos os golfinhos passarem. Mostro-te as hortências mais azuis e as azáleas mais cheirosas, a erva mais macia e as sombras mais frescas.
Mas agora sinto-me diferente...
È uma sombra surda, que caminha comigo, invisível através dos meus sítios mais secretos da ilha.
Concentro-me para falar com os azuis...mas não estou sozinho. Presinto que alguém me ouve e fico sempre à espera de outra voz surgir.
Deito-me e rebolo no verde mas não estou à vontade...suspeito que alguém me observa por entre as hortências e criptomérias.
Tacteio à procura de um rosto, de uma mão...de uma resposta!
Percebo então que és tu que andas em mim. Não te vejo nem toco mas sinto-te comigo, sempre...o tempo todo.
Partilho contigo os recantos secretos da ilha, a melhor duna para ver a lua e o melhor angulo do sol nascente. O vento da fajã já não sopra só para mim e no meu castelo secreto há agora duas janelas viradas para o mar.
Já não estou sozinho quando tomo banho à noite na praia e os garajaus já não cantam só para mim.
Levo-te à minha cascata escondida, à minha praia deserta, à torre do farol abandonado para vermos os golfinhos passarem. Mostro-te as hortências mais azuis e as azáleas mais cheirosas, a erva mais macia e as sombras mais frescas.
Todos os tesouros e riquezas da ilha deixaram de ser só meus...são também teus.
Não te vejo nem te toco, mas sinto-te por perto...és tu que andas em mim.
Não te vejo nem te toco, mas sinto-te por perto...és tu que andas em mim.
dedicado a L.
segunda-feira, 11 de setembro de 2006
Regresso
Foto by Blues
É-me sempre difícil chegar ao Faial.
Aqui nasci e passei a infância, e foi aqui, que muitas vezes, voltei à procura daquilo que sabia ter perdido para sempre.
Quantas vezes me traíu e amou esta ilha? Quantas vezes cheguei...quantas vezes, com amargura parti?
Sento-me onde, dantes me sentava...e descanso. Sinto o mar que me cerca e durmo sem sobressaltos. Fico imóvel e percorro as entranhas da ilha, desço pela sua raiz até encontrar o fogo que persiste vivo para lá do fundo do mar...e o meu pensamento arde.
Aqui nasci e passei a infância, e foi aqui, que muitas vezes, voltei à procura daquilo que sabia ter perdido para sempre.
Quantas vezes me traíu e amou esta ilha? Quantas vezes cheguei...quantas vezes, com amargura parti?
Sento-me onde, dantes me sentava...e descanso. Sinto o mar que me cerca e durmo sem sobressaltos. Fico imóvel e percorro as entranhas da ilha, desço pela sua raiz até encontrar o fogo que persiste vivo para lá do fundo do mar...e o meu pensamento arde.
Dia de Chuva
Foto by Miguel Antunes
Um dia de chuva pode ser tão belo como um dia de sol.
Ambos existem, cada um como é...
Casa
Foto by Mary Johanova
Já não sei onde, nem o que é a minha casa!
Todos me dizem que a nossa casa é o lugar onde vivemos...a própria definição do dicionário diz que casa é o edifício para habitação, morada, mansão, lar ou domicílio.
Mas eu já não sei onde é a minha casa!
Já passei por tantas casas e tantos ambientes que já não sei aonde pertenço...
Sinto-me bem aqui onde cresci, onde aprendi o sentido de família e de amizade...sinto-me protegido...mas falta alguma coisa.
Também me sinto bem no meio da grande cidade, no centro do mundo onde posso ter tudo...mas não me sinto em casa, não me completa.
Já morei num navio, no oceano...e gostei. Tinha um ar solitário e épico e tinha o tempo todo para meditar em esferas superiores. Mas falta-me a ligação inevitável à terra e às pessoas.
De tanto andar, já não sei onde pertenço. Mas apetece-me pousar a mochila, lançar âncora e sentir-me em casa.
Apetece-me encontrar um lugar entre a terra e o mar, onde possa ver o sol e a lua. Um refúgio onde possa voltar sempre todos os dias. Um esconderijo onde te possa amar sem receios. Uma fortaleza que me proteja de todos os índios e temporais...
Uma casa onde em paz, possa fechar os olhos e...dormir.
Todos me dizem que a nossa casa é o lugar onde vivemos...a própria definição do dicionário diz que casa é o edifício para habitação, morada, mansão, lar ou domicílio.
Mas eu já não sei onde é a minha casa!
Já passei por tantas casas e tantos ambientes que já não sei aonde pertenço...
Sinto-me bem aqui onde cresci, onde aprendi o sentido de família e de amizade...sinto-me protegido...mas falta alguma coisa.
Também me sinto bem no meio da grande cidade, no centro do mundo onde posso ter tudo...mas não me sinto em casa, não me completa.
Já morei num navio, no oceano...e gostei. Tinha um ar solitário e épico e tinha o tempo todo para meditar em esferas superiores. Mas falta-me a ligação inevitável à terra e às pessoas.
De tanto andar, já não sei onde pertenço. Mas apetece-me pousar a mochila, lançar âncora e sentir-me em casa.
Apetece-me encontrar um lugar entre a terra e o mar, onde possa ver o sol e a lua. Um refúgio onde possa voltar sempre todos os dias. Um esconderijo onde te possa amar sem receios. Uma fortaleza que me proteja de todos os índios e temporais...
Uma casa onde em paz, possa fechar os olhos e...dormir.
Cavaleiro Andante
Foto by Carlos Viana
Porque sou o cavaleiro andante
Que mora no teu livro de aventuras
Podes vir chorar no meu peito
As mágoas e as desventuras
Sempre que o vento te ralhe
E a chuva de maio te molhe
Sempre que o teu barco encalhe
E a vida passe e não te olhe
Porque sou o cavaleiro andante
Que o teu velho medo inventou
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou
Sempre que a rádio diga
Que a américa roubou a lua
Ou que um louco te persiga
E te chame nomes na rua
Porque sou o que chega e conta
Mentiras que te fazem feliz
E tu vibras com histórias
De viagens que eu nunca fiz
Podes vir chorar no meu peito
Longe de tudo o que é mau
Que eu vou estar sempre ao teu lado
No meu cavalo de pau
Carlos Tê/Rui Veloso
S. Miguel
Ponta Delgada - S. Miguel
Foto by Mariana
A oeste de finisterra ficam as ilhas perdidas
Disse-me um corso galego que um dia as viu e perdeu
As velhas cartografias também o dizem assim
Como ter fortuna de as achar no mar oceano sem fim ?
Vinha um dia das canárias ao largo com vento a favor
Seguimos o vôo das aves que tomamos por açores
Até que ouvi do mastaréu a voz rouca do gajeiro
Terra à vista lá ao longe no meio do nevoeiro
Ó que ilha tão formosa
Pisei ao sair do batel
Dei-lhe então nome de santo
Em dia de são miguel
Rui Veloso/Carlos Tê
Mesa
Peter Café Sport - Foto by Anticiklone
Há uma mesa à qual regresso sempre que aqui venho.
Não pelo seu conforto que a madeira é grossa e o tampo de mármore frio.
Não é pelo local, que esse é escuro e até suturno.
Não é pelo ambiente que esse é abafado e carregado de fumo.
É porque ela representa parte do meu passado, passado aqui sentado a olhar para a porta…para o mundo lá fora.
É porque nesta mesa, o fumo desenha histórias que me fizeram feliz e a música aquece sempre o coração
Desta mesa vejo o tempo passar, vejo gente do mundo todo, o céu e o mar lá fora…e cá dentro vejo a minha vida toda.
É porque nela o café aquece mais a alma e o gin tem mais sabor a mar.
É pela familiaridade da mesa, em tantas conversas que os amigos vão trazendo à medida que se vão sentando comigo.
É pela sensação de paz que sinto sempre aqui me sento…longe do mundo.
É porque esta mesa não é uma simples mesa…é uma ligação com o passado e com a ilha.
Não pelo seu conforto que a madeira é grossa e o tampo de mármore frio.
Não é pelo local, que esse é escuro e até suturno.
Não é pelo ambiente que esse é abafado e carregado de fumo.
É porque ela representa parte do meu passado, passado aqui sentado a olhar para a porta…para o mundo lá fora.
É porque nesta mesa, o fumo desenha histórias que me fizeram feliz e a música aquece sempre o coração
Desta mesa vejo o tempo passar, vejo gente do mundo todo, o céu e o mar lá fora…e cá dentro vejo a minha vida toda.
É porque nela o café aquece mais a alma e o gin tem mais sabor a mar.
É pela familiaridade da mesa, em tantas conversas que os amigos vão trazendo à medida que se vão sentando comigo.
É pela sensação de paz que sinto sempre aqui me sento…longe do mundo.
É porque esta mesa não é uma simples mesa…é uma ligação com o passado e com a ilha.
domingo, 10 de setembro de 2006
Mágoa de Nada
Forto by Anticiklone
Paira à tona de água
Uma vibração,
Há uma vaga mágoa
No meu coração.
Não é porque a brisa
Ou o quer que seja
Faça esta indecisa
Vibração que adeja,
Nem é porque eu sinta
Uma dor qualquer.
Minha alma é indistinta
Não sabe o que quer.
É uma dor serena,
Sofre porque vê.
Tenho tanta pena,
Soubesse eu de quê
Fernando Pessoa
sábado, 9 de setembro de 2006
sexta-feira, 8 de setembro de 2006
quinta-feira, 7 de setembro de 2006
Estou de Volta
Estou de volta...
Depois de um mês nas ilhas, depois de voltar ao azul e ao verde...
Depois de regressar a casa...às raízes...
Depois de voltar a sentir o oceano, o cheiro de maresia e o canto das gaivotas...
Depois de ver a lua subir por trás do Pico e o sol por-se em S. Jorge...
Depois do fim de tarde em Porto-Pim, do passeio de bicicleta pela avenida, do lanche na esplanada do Centro Cultural e do jantar na varanda, de frente para o canal...
Depois da marina, do "Peter" e das noites da "Central"...
Depois do azul das hortências, da frescura das criptomérias...
Depois de ter voltado ao início, ao centro do meu mundo...
Estou de volta
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