quarta-feira, 8 de março de 2006

Guardador da Ilha


…talvez seja por isso que nunca durmo. Mantenho-me acordado durante a noite ou caio dentro de uma espécie de limbo sonolento. Ouço e vejo tudo o que se atravessa no feixe luminoso do farol.
Sou muito velho, quase tanto como o farol. Vi muitas coisas, posso contar todas as histórias que me vierem à cabeça.
E não abandonei, nunca o meu posto. Continuarei aqui, rodeado pela escuridão do mundo, atento ao que nasce inesperadamente, debaixo da luz. Repito os gestos dos meus antepassados, e é nessa perenidade de gestos repetidos, exactos, que se prolonga a solidez do farol.
Quando a tempestade o sacode desde os alicerces, e o mar ressoa pelas escadas acima, fico tranquilo; porque sei que depois da minha morte, à hora certa de o acender, dentro de mil anos, tudo será executado minuciosamente, como acabo de o fazer.
Al Berto