quinta-feira, 27 de abril de 2006

Rapariga Mistério



Teria ela então, uns dezoito anos, pouco mais ou menos. Destacava-se porém de todas as outras pela sua notável beleza, por uma luz de particular doçura e de recolhida serenidade, que trazia nos olhos verdes, rasgados entre as pestanas grandes, como duas gotas de água escondidas sossegadamente entre as ervas altas.
A pele era trigueira, mordida pelos grandes sois do oceano, os cabelos lisos e acastanhados andavam-lhe sobre o pescoço e sobre a face, num sinal evidente de acanhadez.
Passava todas as manhãs pela minha rua quando ia comprar o pão. Trazia invariavelmente jeans e uma camisa branca, aberta em cima, deixando a descoberto o pescoço esbelto.
Quando nos cruzávamos, olhávamos um para o outro como se fossemos íntimos…mas nunca nenhum de nós teve coragem para dizer o que quer que fosse.
Nunca cheguei a ouvir a voz e nem mesmo a saber o nome daquela doce rapariga que durante um mês de Verão, me fez vir à janela só para a ver passar.

(Agosto 1991)