domingo, 22 de janeiro de 2006

Será?


Será que ainda me resta tempo contigo
ou já te levam balas de um qualquer inimigo?
Será que soube dar-te tudo o que querias
ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias?
Será que fiz tudo o que podia fazer
ou fui mais um cobarde, não quis foi sofrer?
Será que lá longe o céu ainda é azul
ou já o negro cinzento confunde Norte com Sul?
Será que a tua pele ainda é macia
ou é a mão que me treme sem ardor nem magia?
Será que ainda te posso valer
ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer?
Será que é de febre este fogo
este grito cruel que da lebre faz lobo?
Será que amanhã ainda existe para ti
ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri?
Será que lá fora os carros passam ainda
ou estrelas caíram e qualquer sorte é bem vinda?
Será que a cidade ainda está como dantes
ou cantam fantasmas e bailam gigantes?
Será que o Sol se põe do lado do mar
ou a luz que me agarra é sombra do luar?
Será que as casas cantam e as pedras do chão
ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão?
Será que sabes que hoje é Domingo
ou os dias não passam, são anjos caindo?
Será que me consegues ouvir
ou é tempo que pedes quando tentas sorrir?
Será que sabes que te trago na voz
que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós?
Será que te lembras da cor do olhar
quando juntos a noite não quer acabar?
Será que sentes esta mão que te agarra
que te prende com a força do mar contra a barra?
Será que consegues ouvir-me dizer
que te amo tanto quanto noutro dia qualquer?
Eu sei que tu estarás sempre por mim
não há noite sem dia nem dia sem fim.
Eu sei que me queres e me amas também
me desejas agora como nunca ninguém.
Não partas, então?
Não me deixes sozinho…
Vou beijar o teu chão chorar o caminho
Será?


Pedro Abrunhosa