quinta-feira, 12 de outubro de 2006

Baleeiro


Foto by André Weill

O meu avô atravessou todas as ondas
Cruzou as monções e arpoou as baleias
Cantava de noite uma canção mágica
Que chama às redes os bandos de moreias
Contou-me histórias de grutas azuis
Onde as medusas estão de guarda às maresias
E de mulheres como estátuas de sal
Para sempre à sua espera em praias vazias
O meu avô amuou a baleia branca
Por ela se foi perder nos dentes do mar
Mas deixou um mapa no meu travesseiro
Para quando também eu já não quiser voltar
Só eu conheço o rumo do norte
Que atravessa os olhos verdes das sereias
Até às baías de cristais de gelo
Onde em segredo se vão amar as baleias

Clara Pinto Porreia