quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Ondas

Sto Cristo - Foto by Rui Vieira

Já nem sei quando começou o meu fascínio pelo mar...provávelmente foi ainda antes dos 5 anos.
Lembro-me desde sempre de brincar na praia como se fosse o meu quintal. A malta da "Bombardeira" sempre fez de Porto-Pim o seu recreio e era lá que tudo se passava principalmente de Verão, mas também no Inverno.
Mas era na meia estação que a praia ganhava adrenalina. Em finais de Setembro e início de Outubro, quando os dias já eram pequenos mas a água ainda apetecia, quando a areia já não escaldava e os ventos começavam a soprar.
Eu e a malta da praia sentíamo-nos herois, quando já ninguém frequentava Porto-Pim e todos nos chamavam de loucos por desafiar as leis sociais que dizem que praia é no verão. Era o tempo em que os ventos começam a soprar e as ondas a crescer.
Foi num desses Outonos que algum de nós apareceu com uma mini prancha de esferovite. Nessa altura o surf não era uma moda, aliás nem conhecíamos essa palavra, nem body-board, nem fatos nem revistas de surf, nem sequer se usava a palavra "ondas", eram "vagas"...no mais duro e puro sentido da palavra.
Foi portando um amor inocente e puro, não foi pelo status ou pelo kitch, que nesse tempo o surf não era bem...era loucura. Com uma prancha de esferovite dividida por cinco ou seis malucos, fizémos prolongar o Outono desse ano e foi aí que aprendi a ter respeito pelo mar embravecido e a sentir o prazer de o dominar. Sentir a corrente a puxar-me para trás, sem ter medo de me deixar levar até ao momento exacto de me lançar para a frente da rebentação e com um impulso em sintonia com a onda, descer a parede de água...dominar a velocidade da prancha e a força bruta de toneladas. O som é ensurdecedor, o cheiro a maresia inebriante, a velocidade é quase mortal, a concentração tem de ser total e a sensação é...única!
Anos mais tarde consegui a minha própria prancha e alarguei o meu horizonte de praias. Aprendi a conhecer a onda clássica do final de dia em Porto-Pim...redonda, longa e suave. Ou então a imprevisibilidade da onda da Fajã, a força das direitas do Almoxarife e a corrente das esquerdas da Alagoa. Conheci o éden da fajã de Sto. Cristo e quando fui estudar para o Porto ainda fui apanhar umas ondas a Leça.

Almoxarife - Foto by anticiklone


Praia do Norte - foto by anticiklone