sábado, 29 de abril de 2006

Força 7

Ilhas de Bruma


A lua nasce sobre o Pico
Foto by Carla Maio

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Agarra-me Esta Noite


Foto by Sara Amaral

Onde estiveres, eu estou
Onde tu fores, eu vou
Se tu quiseres assim
Meu corpo é o teu mundo
E um beijo um segundo
És parte de mim
Para onde olhares, eu corro
Se me faltares, eu morro
Quando vieres, distante
Solto as amarras
E tocam guitarras
Por ti, como dantes
Agarra-me esta noite
Sente o tempo que eu perdi
Agarra-me esta noite
Que amanhã não estou aqui.
Agarra-me esta noite
Sente o tempo que eu perdi
Agarra-me esta noite
Que amanhã não estou aqui.

Pedro Abrunhosa

Lisboa Comvida


Foto by Luquésio Melo

Rapariga Mistério



Teria ela então, uns dezoito anos, pouco mais ou menos. Destacava-se porém de todas as outras pela sua notável beleza, por uma luz de particular doçura e de recolhida serenidade, que trazia nos olhos verdes, rasgados entre as pestanas grandes, como duas gotas de água escondidas sossegadamente entre as ervas altas.
A pele era trigueira, mordida pelos grandes sois do oceano, os cabelos lisos e acastanhados andavam-lhe sobre o pescoço e sobre a face, num sinal evidente de acanhadez.
Passava todas as manhãs pela minha rua quando ia comprar o pão. Trazia invariavelmente jeans e uma camisa branca, aberta em cima, deixando a descoberto o pescoço esbelto.
Quando nos cruzávamos, olhávamos um para o outro como se fossemos íntimos…mas nunca nenhum de nós teve coragem para dizer o que quer que fosse.
Nunca cheguei a ouvir a voz e nem mesmo a saber o nome daquela doce rapariga que durante um mês de Verão, me fez vir à janela só para a ver passar.

(Agosto 1991)

Terras de Lava


Praia do Pópulo - S. Miguel

quarta-feira, 26 de abril de 2006

História de Verão


Foto by Paulo César

Uma abelha (leia-se mulher), dessas que dizem ser italianas, entrou pela janela, obstinou-se em escolher-me, pousa-me no ombro, descansa de seus trabalhos.
Lisonjeado com aquela preferência, comecei a amá-la devagar, retendo a respiração, com receio de que não tardasse a dar pelo seu engano, que cedo viesse a descobrir que não era eu a haste onde se avistam as dunas.
Mas o seu olhar tranquilizava, era calma ondulação do trigo. Agora só uma interrogação perturbava a minha alegria…comigo, como é que faria o seu mel?



(Dedicado a A.F.)

terça-feira, 25 de abril de 2006

Read My Eyes


Foto by Yuri B

Desejos Vãos


Foto by Mário Pereira

Eu queria ser o mar de altivo porte
que ri e canta a vastidão imensa!
Eu queria ser a pedra que não pensa,
a pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
o bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
que ri do mundo vão e até da morte.
Mas o Mar também chora de tristeza…
As árvores também como quem reza,
abrem aos céus os braços como um crente!
E o Sol altivo e forte, ao fim do dia
tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras, essas…pisa-as toda a gente

Florbela Espanca

A Tua presença



A tua presença
Entra pelos sete buracos da minha cabeça
A tua presença
Pelos olhos, boca, narinas e orelhas
A tua presença
Paralisa o meu momento em que tudo começa
A tua presença
Desintegra e actualiza a minha presença
A tua presença
Envolve o meu tronco, meus braços e minhas pernas
A tua presença
É branca verde, vermelha azul e amarela
A tua presença
Transborda pelas portas e pelas janelas
A tua presença
Silencia os automóveis e motas
A tua presença
Espalha-se no campo derrubando as cercas
A tua presença
É tudo que se come, tudo que se reza
A tua presença é a coisa mais bonita em toda a natureza


Autor desconhecido

A Arte de Ser Feliz


Foto by Nadya Kulagina

Houve um tempo em que a minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam dos seus dedos magros e o meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crinças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como reflectidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Às vezes um galo canta. Às vezes um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu sinto-me completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.

Cecília Meireles

Garotos


Teus olhos e teus olhares
Milhares de tentações.
Meninas são tão mulheres
Teus truques e confusões
Espalham-se pelos pêlos
Boca e cabelo
Peitos, poses e apelos
Agarram-me pelas pernas
Certas mulheres como tu
Levam-me sempre onde querem
Teus dentes e teus sorrisos
Mastigam o meu corpo e juízo
Devoram os meus sentidos
Eu já não me importo comigo
E então são mãos e braços
Beijos e abraços
Pele, barriga e seus laços
São armadilhas e eu não sei o que faço
Aqui de palhaço, seguindo os teus passos
Garotos não resistem
Aos teus mistérios
Garotos nunca dizem não
Garotos como eu
Sempre tão espertos
Perto de uma mulher
São só garotos
Perto de uma mulher
São só garotos!

domingo, 23 de abril de 2006

Navegar


Foto by Vitor Melo

Por onde navega essa alma inquieta?
Por um vendaval de lembranças
Por um mar de fantasia
Ou simplesmente pelas águas paradas
De uma lagoa adormecida?
Por onde navega esse coração?
Por ondas de amor
Por uma tempestade de paixão
Ou por um porto de abrigo?
Por quem navegas tu?

Woman in Black


Foto by Oleg Andeev

sábado, 22 de abril de 2006

É Hora



O Sol morreu e a lua subiu
A penumbra cobriu os céus
E as luzes avivaram-se
Reina a calma na cidade toda
É hora dos poetas…
Daqueles que não fazem versos
Mas que vêem formar pelo fumo do seu cigarro
Desenhos vagos de felicidade adiada
É hora dos que trazem consigo na alma
O fogo das ilusões
E caminham sobre o ardor dos sonhos

sexta-feira, 21 de abril de 2006

Read My Eyes


Foto by Isabel

Verdades Simples



A avó entrava cedo no quarto
cheirando ao canto do galo
a terra fresca e a café com leite.
Abria as janelas e a luz enchia a casa
como um sopro de vida
Ela sabia que a felicidade
não é mais do que três rosas
colhidas no quintal da casa
toda aberta para a força da manhã.
São precisas depois
tantas outras casas e janelas e manhãs
para entender estas verdades simples,
desses dias claros e serenos
ancorados na memória de cada um

Ilhas de Bruma


Caldeirão - Corvo ..............................................Foto by Quim Castilho

quinta-feira, 20 de abril de 2006

Força 7

Azul Profundo

Homenagem


Encontro uma ilha
Será maravilha ou tem
O que ninguém deu
Durante a viagem
P´ro outro lado
É mais outra ilha
Será que é mais outro porto
Em que se bebeuE se esqueceu
Um outro fado
Há quem espere por nós assim
Mesmo ao meio da rota do fim
Há quem tenha os braços abertos
Para nos aquecer
E acenar no fim
Há quem tema por nós assim
Quando os barcos partem por fim
Há quem tenha os braços fechados
Com beijo jurado
Eu voltarei pra ti
Nunca é miragem
Sabemos que o cais é certo
É a estrela polar
Em sol aberto
A castigar
Ficamos mais perto
Sentimos mais dentro a força
Do que nós somos
E do que queremos
Reconquistar
Dança de nuvens
O vento é meu companheiro
P´ra me embalar
No meu repouso
De aventureiro
Luís Represas


terça-feira, 18 de abril de 2006

Ilhas de Bruma


Pico

segunda-feira, 17 de abril de 2006

Liberdade


Porto Pim - Faial
Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unanimidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.
Sophia de Mello Breyner Andresen

Mulher de Porto Pim


Foto by C.King

Deixa-me olhar-te
Na água do fim de tarde
E imaginar o perfil das tuas linhas
Ocultas no mar.
Deixa a fantasia bailar
Nos olhos de quem te vê assim
Tão bela.
Quando saíres
Dá os teus cabelos ao sol poente
Que os fará mais ouro,
Vem pousar o teu encanto
No horizonte da minha toalha
Para eu prender o prazer desses olhos
E o sabor de tornar este sonho
Tão real quanto parece.
Vem mergulhar na minha alma ansiosa
Num mar de águas felizes
E deixa-te ficar a perfumar os meus sonhos.
Traça nos lábios rubros
Um beijo meigo
Que diga tudo o que as palavras não conseguem
E que sempre fique guardado
Na nossa lembrança.

(Julho 1994) dedicado a A.L.R.

Navio


Só deixei no cais a multidão,
A terra dos mortais,
A confusão,
Navego sem farol, sem agonia... distante;
E vou nesta corrente,
Na maré,
No securo da menor consolação,
Acordo a meio do mar que me arrepia,
E foge...
A minha paixão é uma loucura.
Ando...
Numa viagem perdida,
O navio anda à deriva,
Sózinho.
Não é grande o mal, bem pouco dura;
E quando...
Afundar a minha vida,
Se calhar sou prometido... do mundo.

Pedro Ayres Magalhães

domingo, 16 de abril de 2006

Ilhas de Bruma


Terceira

Primavera


…íamos quase em Abril, os dias corriam já ensolarados e no ar sentiam-se já os aromas da nova estação. Aquele miúdo porém andava inquieto, sobressaltado…quase desesperado.
Correu quintal acima galgando pedras e sebes, numa direcção que só ele sabia e percorria, todos os dias das últimas semanas.
Depois parou, afastou uns ramos, olhou, procurou mas nada. Desanimado já ia regressar, quando de repente…ali estava
Bem escondida entre a folhagem de um arbusto, como se quisesse fugir à cobiça dos homens. Era perfeita. Grande, bela, pura, sem mácula.
O miúdo contemplava estarrecido a primeira flor daquela roseira secreta que, todos os anos floria só para ele.
Agora sim, a Primavera tinha chegado!

Força 7

Em névoa me tornei

Foto by Zacarias da Mata

Num banco de névoas calmas quero ficar enterrado
Num casebre de bambú na minha esteira deitado
A fumar um narguilé até que passe a monção
Enquanto a chuva derrama a sua triste canção
Sei que tenho de partir logo que suba a maré
Mas até ela subir volto a encher o narguilé
Meu capitão já é hora de partir e levantar ferro
Não me quero ir embora diga que foi ao meu enterro
Deixem-me ficar deitado a ouvir a chuva a cair
Que ainda estou acordado só tenho a alma a dormir
Como a folha de bambú a deslizar na corrente
Apenas presa ao mundo por um fio de água morrente
Nos arrozais morre a chuva noutra água há-de nascer
Abatam-me ao efectivo também eu me vou sem morrer
Para quê ter de partir logo que passe a monção
Se encontrei toda a fortuna no lume deste morrão
Ópio bendito ópio minhas feridas mitiguei
Meu bálsamo para a dor de ser
Em ti me embalsamei
Ópio maldito ópio foi para isto que cheguei
Uma pausa no caminho
Numa névoa me tornei

"Logo que passe a monção" - Carlos Tê & Rui Veloso

Terras de Lava


Nascer-do-Sol, 200 milhas a Oeste das Flores

Se...


Quando ela passou por mim
indiferente e distraída,
surpreendi-me a pensar sem querer,
de repente na minha vida ...
Se eu a seguisse, ela que nunca me viu

e passou distraída
como se eu nem a visse
Se eu a seguisse
pela rua no meio a tanta gente,
talvez se transformasse toda a minha vida
e ao encontro dela
a minha estrada tomasse um rumo diferente...

Araújo Jorge

Lisboa ComVida

domingo, 9 de abril de 2006

Desejo-te


Foto by Jakub

Desejo-te...
Desejo sentir o teu rosto no meu
A tua pele colada á minha,
Desejo...
Desejo abraçar-te e não me sentir perdido
Perdido na solidão que me consome,
Achar-me um dia.
Anseio pelo teu toque
Quente e suave...
Cheirar...
Cheirar o teu aroma,
Fresco e calmante...
Lembrar-me...
Lembrar-me de um dia especial
Que me reconforte um dia.
Anseio por ti
É inevitável...
Inevitável deixar de me encontrar,
Num ser que tem tanto para dar!
És tu...amor perdido,
Que tento há tanto tempo encontrar!

Woman in Black



Foto by Sasha

Oceano


Assim
Que o dia amanheceu
Lá no mar alto da paixão
Dava pra ver o tempo ruir
Cadê você?
Que solidão!
Esquecera de mim
Enfim

De tudo que há na terra
Não há nada em lugar nenhum
Que vá crescer sem voce chegar
Longe de ti tudo parou
Ninguém sabe o que eu sofri
Amar é um deserto

E seus temores
Vida que vai na sela
Dessas dores
Não sabe voltar
Me dá teu calor
Vem me fazer feliz

Porque eu te amo
Você deságua em mim
E eu oceano
Esqueço que amar
É quase uma dor
Só sei
Viver
Se for
Por você

Djavan

Terras de Lava


Caldeira - Faial
Foto by Anticiklone

Recordação


Porto Pim - Faial

Sentei-me
apoiei meus braços
e olhei em frente
vi a cor doirada do sol poente
gaivotas brancas
tristes
levantam vôo
poisam sobre as águas
falam-me de ti
em soluços de água
rebentando em mim
e a imensidão da areia
como a minha ideia
não tem cor
nem fim!...

Maria Beatriz dos Santos Ferreira

Se tu soubesses


Varadouro - Faial

Se tu soubesses
Que em todos os portos do mundo
Há uma mão desconhecida
A acenar quando se parte para o mar.
Se tu soubesses
Que o mar não tem fronteiras nem distâncias
É sempre mar.
Se tu soubesses
Como é a noite nas àguas
Onde os barcos são berços
E os marinheiros meninos a sonhar.
Se tu soubesses
Que em todos os portos do mundo
Há um sorriso para quem chega
Se tu soubesses…
Vinhas comigo.
Vinhas comigo pró mar,
Embora as nuvens no céu
E os ventos de todos os quadrantes
Dissessem ao mundo
Que iria haver o maior temporal de todos

sábado, 8 de abril de 2006

Ilhas de Bruma


Foto by Jorge Coimbra

Read My Eyes


Foto by Helena Caldeira

domingo, 2 de abril de 2006

Woman in Black


Foto by FMK photo

Procuro-te


Foto by Oleg Seleznev

Procura por mim
Quando for já logo à noite na praia
Com o sol a derreter-se enfim
Procura por mim
Com o vento por saia
E em lugar de suor o sargaço.
Eu estarei quieto e assim sozinho
Cheio das dúvidas do universo
À tua espera
A desenhar o caminho
Para te escrever em verso
No meu regaço.

As Cores do Sol


Pico e Faial vistos de S.Jorge
Foto By Rui Vieira

Ao cair da tarde
Penso sempre mais
E a luz que me invade
São as cores naturais
Cada figuraque passa por mim
nem me perturba
e eu fico assim
Longe me leva este silêncio
e o sentir que se altera
são as cores do sol
E fico encantado
e sinto-me a arder
quando o dia se apaga
fica tanto por ver

Frescura Insular


S. Miguel
Foto by TG Dusty

Longe das aldeias, longe das casas
Ouvimos cantar todas as fontes
E na solidão dos velhos montes
Beijamos as águas dos ribeiros

Francisco Ribeiro

Força 7

Verde mais verde não há

Lagoa das Sete Cidades Foto by Vagabond

A Praia do Mar


Foto by Adilson Falstz

Corre a menina à beira do mar
corre, corre, pela praia fora
que belo dia que está, não está?
E o primeiro a chegar não perde
Andam as ondas a rebentar
e o relógio a marcar horas
a sombra é quente, e quase não há
e o sol a brilhar já ferve
Corre a menina à beira do mar
corre enquanto a gaivota voa
vem o menino para a apanhar
e a menina sentindo foge
Foge a menina da beira mar
foge logo quando a maré sobe
Andam a brincar
na praia do mar
as ondas do mar
E é tão bonita a onda que vem
como a outra que vejo ao fundo
a espuma branca que cada tem
é a vida de todo o mundo.

Pedro Ayres de Magalhães