segunda-feira, 29 de maio de 2006

Ilhas de Bruma


Fajanzinha - Flores

Pirata



Sou o único homem a bordo do meu barco.
Os outros são monstros que não falam,
Tigres e ursos que amarrei aos remos,
E o meu desprezo reina sobre o mar.
Gosto de uivar no vento com os mastros
E de me abrir na brisa com as velas,
E há momentos que são quase esquecimento
Numa doçura imenso de regresso.
A minha pátria é onde o vento passa
A minha amada é onde os roseirais dão flor,
O meu desejo é o rasto que ficou das aves,
E nunca acordo deste sonho e nunca durmo.

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 25 de maio de 2006

Read My Eyes


Foto by Paco Bernardeli

Gosto de estar contigo



Já não me lembro de quando te conheci…és daquelas mulheres que vão entrando devagarinho na nossa vida, entranhando-se agradavelmente no nosso ser e quando se dá por isso já não sabemos quando foi o início.
Podia perfeitamente ter sido na mesa de um café, através de amigos comuns ou até na esplanada, numa qualquer noite de Verão
Sei agora que não foi em nenhuma destas situações, mas isso agora não interessa e nem sequer interessa há quanto tempo foi…porque agora parece que te conheço desde sempre!
Na minha memória não é evidente um momento único e exacto, mas sim uma sequência crescente da tua presença em mim.
Foste entrando devagarinho sem eu dar por isso, com uma suavidade arrepiante, como um aroma doce que nos invade as entranhas…como um sexto sentido que não se explica.
Lembro-me de reparar na tua postura simples mas cheia de classe, no teu ar sereno e na ternura do teu olhar. Nas tuas formas femininas, nos lábios bem delineados tão à espera de serem beijados. Na tua forma doce de andar, de falar e de tocar…
Ficou-me de ti uma impressão saudável, serena, pura…linda, que foi crescendo em tantas ocasiões que fomos partilhando sem saber.
Em passeios na praia, visitas a castelos e mosteiros, jogos da bola, jantares à beira rio, chazinhos antes de dormir e em tantos outras alturas em que estivemos juntos.
À medida que crescia a nossa proximidade, fui percebendo que gostava de estar contigo…gosto mesmo muito de estar contigo...
(dedicado a L.)

terça-feira, 23 de maio de 2006

Começo



Eu fui devagarinho
com medo de falhar
não fosse esse o caminho certo
para te encontrar
fui descobrindo devagar
cada sorriso teu
fui aprendendo a procurar
por entre sonhos meus
eu fui assim chegando
sem entender porquê
já foram tantas vezes
tantas assim como esta vez
mas é mais fundo o teu olhar
mais do que eu sei dizer
é um abrigo pra voltar
ou um mar pra me perder
eu fui entrando pouco a pouco
abri a porta e vi
que havia lume aceso
e um lugar pra mim
quase me assusta descobrir
que foi este sabor
que a vida inteira procurei
entre a paixão e a dor.

(dedicado a L.) Mafalda Veiga

quarta-feira, 17 de maio de 2006

Esquecimento


Foto by Anabela

Às vezes quase me esqueço de como vives em mim…
Durante o sono sinto de novo o teu corpo procurando o meu.
Deixo-me ficar quieto, abro as mãos, toco-te…quando a tua voz me sacode. Encolho-me e escuto em mim.
Trago-te o mar e as nuvens. Trazes-me a paz e a segurança.
Dou-te a terra firme que se transforma em húmus, e a seiva morna das árvores, a dor que a vida faz latejar no pulso dos homens sozinhos…e o tempo, essa doença dos vivos.
Noite após noite falo-te, amo-te sem saber, toco-te sem sentir. Trago a cinza das horas e os dias da paixão onde não há dia nenhum.
Trago-te as palavras e este cigarro que fumaremos os dois…em frente ao mar, no silêncio dos náufragos.
O dia vem chegando lentamente através da incandescência de um raio que atravessa o quarto vazio e acende-te o rosto. Nos meus olhos descobrirás um dia, como é grande a tristeza do mundo.
Lá fora começa outra vez o Verão

terça-feira, 16 de maio de 2006

Terras de Lava


Fanal - Terceira
Foto by Anticiklone

Aqui Sobre Estas Àguas


Faial visto do cimo do Pico

Aqui, sobre estas águas cor de azeite,
Cismo em meu Lar, na paz que lá havia.
Carlota, à noite, ia ver se eu dormia
E vinha, de manhã, trazer-me o leite.
Aqui, não tenho um único deleite

Talvez... baixando, em breve, à água fria,
Sem um beijo, sem uma Ave-Maria,
Sem uma flor, sem o menor enfeite!
Ah pudesse eu voltar à minha infância!

Lar adorado, em fumos, à distância,
Ao pé da minha irmã, vendo-a bordar:
Minha velha Aia!

Conta-me essa história
Que principiava, tenho-a na memória,
“Era uma vez...”

António Nobre

Acaso



No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.
A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da visão imediata,

Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.
Que grande vantagem o recordar intransigentemente!

Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.
Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!

Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por gênio,
Se calhar, ou até sem calhar,
Maravilha das celebridades!
Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos...

Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira,
Mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade,
Numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade
Numa outra espécie de rua;
Por que todas as recordações são a mesma recordação,
Tudo que foi é a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?
Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.

Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser...
A rapariga loira?
É a mesma afinal...
Tudo é o mesmo afinal ...
Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal.


(dedicado a A.F.) Alvaro de campos

domingo, 14 de maio de 2006

Read My Eyes


Foto by Cláudio Lopes

Tapas os caminhos que vão dar a casa


Foto by Fernando Siqueira

Tapas os caminhos que vão dar a casa
Cobres os vidros das janelas
Recolhes os cães para a cozinha
Soltas os lobos que saltam as cancelas
Pões guardas atentos espiando no jardim
Madrastas nas histórias inventadas
Anjos do mal voando sem ter fim
Destróis todas as pistas que nos salvam
Depois secas a água e deitas fora o pão
Tiras a esperança
Rejeitas a matriz
E quando já só restam os sinais

Convocas devagar os vendavais

Dedicado a L.A. (adaptado de Maria Teresa Horta)

Desejo-te



Desejo-te...
Desejo sentir o teu rosto no meu,
A tua pele colada á minha,
Desejo abraçar-te e não me sentir perdido,
Perdido na solidão que me consome,
Achar-me um dia.
Anseio pelo teu toque,
Quente e suave...
Cheirar...o teu aroma,
Fresco e calmante...
Lembrar-me de um dia especial,
Que me reconforte um dia.
Anseio por ti,
É inevitável...
Inevitável deixar de me encontrar,
Num ser que tem tanto para dar!
És tu...amor perdido,
Que tento há tanto tempo encontrar


(adaptado de Anabela Bernardo)

Terras de Lava


S. Jorge com Faial ao fundo
Foto by Catrax

Ilha



Fiz-me ao mar com lua cheia
A esse mar de ruas e cafés
Com vagas de olhos a rolar
Que nem me viam no convés
Tão cegas no seu vogar
E assim fui na monção
Perdido na imensidão
Deparei com uma ilha
Uma pequena maravilha
Meio submersa
Resistindo à toada
Deu-me dois dedos de conversa
Já cheia de andar calada
Tinha um olhar acanhado
E uma blusa azul-grená
Com o botão desapertado
E por dentro tão ousado
Um peito sem soutien
Ancoramos num rochedo
Sacudimos o sal e o medo
Falámos de música e cinema
Lia Fernando Pessoa
E às vezes também fazia um poema
E no cabelo vi-lhe conchas
E na boca uma pérola a brilhar
Despiu o olhar de defesa
Pôs-me o mapa sobre a mesa
Deu-me conta dessas ilhas
Arquipélagos ao luar
Com os areais estendidos
Contra a cegueira do mar
Esperando veleiros perdidos

dedicado a Z.L. (Carlos Tê)

sábado, 13 de maio de 2006

Woman in Black


Foto by Ldu Lac

O Meu Abrigo



Olha pra mim
Deixa voar os sonhos
Deixa acalmar a tormenta
Senta-te um pouco aí
Olha pra mim
Fica no meu abrigo
Dorme no meu abraço
E conta comigo
Que eu estarei aqui
enquanto anoitece,
enquanto escurece
e os brilhos do mundo
cintilam em nós
enquanto tu sentes
que se quebrou tudo
eu estarei
sempre que te sentires só
Olha pra mim
Hoje não há batalhas
Hoje não há tristeza
deixa sair o sol
Olha pra mim
fica no meu abrigo
perde-te nos teus sonhos
e conta comigo
enquanto anoitece,
enquanto escurece
e os brilhos do mundo
cintilam em nós
enquanto tu sentes
que se quebrou tudo
eu estarei sempre,
sempre
que te sentires só


Mafalda Veiga

quinta-feira, 11 de maio de 2006

Noites Janelas e Segredos


Foto by Nana Sousa Dias

Na noite calada e quieta como um grande segredo, debruçado na janela do meu quarto, saio lá do fundo do meu sonho e olho ao redor.
Está tudo tão calmo, tão parado tão sereno. Nas ruas mortas, por entre a luz fugidia dos candeeiros cansados, sobe uma névoa desmaiada que cobre toda a cidade.
Oiço o mar no silêncio escuro, e gosto de viver os segredos destes grandes silêncios…nas noites caladas e quietas como um grande silêncio.
Sinto uma paz na alma e uma não sei que ternura para com todos os que estão para lá das outras janelas, adormecidos ou acordados.
Em que janelas estarão os esquecidos, os alegres, os doentes ou os felizes? Por trás de que janelas se escondem aqueles que se amam ou os que sonham, ou ainda os outros…todos os outros.
São tantas as janelas, quase tantas como as almas, e afinal estas são janelas.
Anticiklone

Ilhas de Bruma


Lagoa das Patas - Terceira
Foto by Paulo Melo

terça-feira, 9 de maio de 2006

Arquipélago


Lagoa das Sete Cidades - S. Miguel

A ilha acorda sempre cansada
A espreguiçar-se
Tonta e esverdeada
À espera do sol.
Espreitando com calma
A luz dá-lhe a alma
E aviva-lhe a cor.
Está a ilha toda coberta
De flores e musgo.
Há festa nos matos
E os bichos nos pastos
Ficam a olhá-la, mudos.
A beleza espanta
E aqui nesta terra
Onde quase tudo encanta
Cada passo é uma aventura
Daquilo que não se procura
Porque nos espera, já.
Pináculos de verde e azul
Lagoas de tons diversos
Um mar calmo e transparente
Fazem crer que não há céu
Ou então, se ele existe mesmo,
Foi aqui que Deus omnipotente
Decidiu manifestar-se, um dia,
Discretamente…

Gabriela Silva

segunda-feira, 8 de maio de 2006

Sei de Cor


Foto by Juan Gomez

Sei de cor
Cada traço do teu rosto, do teu olhar
Cada sombra da tua voz e cada silencio,
Cada gesto que tu faças,
Meu amor sei-te de cor.
Sei cada capricho teu e o que nao dizes
Ou preferes calar, deixa-me adivinhar
Nao digas que o louco sou eu
Se for tanto melhor
Amor sei-te de cor
Sei porque becos te escondes,
Sei ao pormenor o teu melhor e o pior
Sei de ti mais do que queria
Numa palavra diria
Sei-te de cor.

Paulo Gonzo

Bang Bang


Foto by X-Maya

Flutuo


Foto by Victor Melo

Flutuo…
Consigo deslindar o meu gosto
Sem esforço
Balanço é o que a maré me dá
E eu não contesto
O meu destino
Está fora de mim
E eu aceito
Sou eu despida
De medos e culpas
Confesso
Hoje eu vou fingir
Que não vou voltar
Despeço-me do que mais quero
Só para não te ouvir dizer
Que as coisas vão mudar amanhã.
Amanhã pensar nisso
Sempre me dá mais jeito
Fazer de mim
Pretérito mais que perfeito.
Hoje eu vou fugir
Para não me dar a vontade
De ser teu
Flutuo…

Susana Felix

O amor quando acontece é...

...Xeque Mate

Provocações





Davas-me nomes pequenos, como se a maré os trouxesse todos os dias.
Fazia parte de ti essa vontade de ser diferente em tudo, de teres uma particularidade qualquer nas tuas coisas…até no amor.
Chamavas-me de amorzinho, manel, meu homem, garanhão ou simplesmente gajo…às vezes até me tratavas por você!
Era sinal de carinho e intimidade…sei que nunca me tratarias por “meu gajo” se não me admitisses na tua intimidade.
E eu retribuía: eras a minha maria, minha gaja, boazona, ás vezes minha esposa, outras a outra.
Degladiávamo-nos com estes gestos de amor, nestes códigos secretos e excitantes que representavam uma sintonia inacessível aos outros. Só nós conhecíamos a chave e o seu significado…quais olhares entre amantes.
Um dia éramos você para cá, você para lá, noutro já éramos manel assim, maria assado. Era tudo conforme o ambiente, era o nosso teatrinho.
Sei que gostavas disto, de chocar…
Lembro-me de estar contigo a comprar roupa para o teu sobrinho e tratares me por garanhão, ou da cara da tua mãe no casamento da tua irmã, quando nos chamava-mos de “meu gajo” e “minha gaja”. Ou então da admiração dos nossos amigos quando à noite no café nos tratava-mos por você!
Tudo isto eram códigos, tudo isto era amor, tudo isto eras tu e era eu…
(dedicado a T.A.)

domingo, 7 de maio de 2006

Read My Eyes


Foto by Alexandre Serra

Noite de Verão


Porto-Pim
Foto by Rui Simas

Nove horas…
A um canto da praia sem ninguém.
O sol baixo, fundo
Tornou o céu vermelho
E o mar imenso, solitário, antigo
Parece bater palmas.
A noite cai mansamente como uma dádiva
Brilhante escura, bordada de astros
Trazendo nos seus dedos
A sombra, o silêncio e os segredos,
A perfeição, a pureza e a harmonia.
Esta é a hora perfeita em que se cala
O confuso murmúrio das gentes
E dentro de nós finalmente fala
A voz dos grandes sonhos indolentes
E a sombra de desejos quentes.
È a hora em que a terra não gira
Em que o tempo não corre.
A um canto da praia sem ninguém
É tempo de nos amarmos.

Força 7

Mar


Graciosa e S.Jorge

Nunca consegui viver longe do mar.
A minha adolescência ficou cheia de dunas e de falésias, de gaivotas e tempestades, de nomes de barcos e de luz soprada à volta da ilha.
Depois parti para longe. E durante anos recordei, em sonhos, o mar avistado pela última vez ao fundo da minha rua.
Conheci quem, ao entardecer, olha meio cego a vastidão incendiada do oceano, e ninguém sabe se espera alguma coisa, alguma revelação, ou se está ali sentado, apenas para morrer.
Aprendi também, que o mar, aquele mar, tarde ou cedo, só existiria dentro de mim…como uma dor afiada, como um vestígio qualquer a que nos amarramos para suportar a melancólica travessia do mundo.
Procurei-o sempre, ao longo dos anos, por onde andei, por todos os portos onde passei, por todas as pessoas que conheci…mas nunca consegui encontrá-lo.
Sei agora que ele só existe lá onde o deixei, ao redor da ilha, junto à praia…e dentro de mim.
(adaptado de Al Berto)

Ilhas de Bruma


Corvo

Estou Com Saudades


Foto by Sergey Kovalinskj

Estou com saudades de ti
Debaixo do meu cobertor
De te arrancar suspiros
Fazer amor...
Estou com saudades de ti
Na varanda em noite quente
E do arrepio frio que dá na gente
Truque do desejo,
Guardo na boca o gosto do beijo
Sinto a tua falta
Sinto-me só
Estou com saudades de ti,
Do nosso banho de chuva,
Do calor na tua pele
Da língua...
das juras de amor ao ouvido.
Estou com saudades de ti
E sinto a tua falta,
Será que um dia voltas?
E de novo tudo pode acontecer

(adaptado de Vanessa Rangel)

sexta-feira, 5 de maio de 2006

Twins


Photo by SS Studio

segunda-feira, 1 de maio de 2006

Ao Longe o Mar


Foto by Carla Maio

Porto calmo de abrigo
De um futuro maior
Porventura perdido
No presente temor
Não faz muito sentido
Não esperar o melhor
Vem da névoa saindo
A promessa anterior
Sim, eu canto a vontade
Canto o teu despertar
E abraçando a saudade
Canto o tempo a passar
Quando avistei ao longe o mar
Ali fiquei
Parado a olhar
Quando avistei ao longe o mar
Sem querer, deixei-me ali ficar

Pedro Ayres Magalhães

Pecado Original


Foto by Ilya Shubin

Valsa do Desejo


Foto by Juan Gomez

Foi no primeiro instante,
Que eu vi
Por trás do leque, alguém
Com os olhos de paixão divina
E o brilho que assassina também
Depois foi sonho e pressa em ti
Asas querendo me levar
Longe... aonde...
Dedos de brisa
Poderiam alucinar-me
A luz de outro instante
Deixou-nos distantes
Como figurantes
Que não vão mais voltar
Mas quem foi amante
Sabe que um amante
Escreve as cordas pra sonhar
E como no teatro, ouvi
A personagem confessar
Somos eternos até um dia
Quando a luz do palco se apagar
E a cortina viva se fechar

Olhos nos Olhos


Foto by Arin Arnov

Diz-me o coração qualquer coisa
Quando em mim poisa
O teu olhar
Ambos enlevados ficamos
E não deixamos
De nos fitar
Que sinto em mim
Que vejo em ti
Olhos nos olhos
Será assim
Que o amor sorri
Olhos nos olhos
Lindo sonho se vê
Despontar e subir
Enlaçar
Que domina e que lê
Sendo cego e fala
Sem falar
Amar é belo
Amar é doce
Olhos nos olhos
O teu olhar
É que me trouxe
Esta certeza
Quando olho p´ra ti
Quando olhas p´ra mim
Na nossa vida há um amor
Temos pressa
Amor que diz
Coisas febris
Olhos nos olhos

António Antão

Terras de Lava


Pico
Foto by Carlos Vieira

Atlântida



Atlântida mãe de ventos e de brumas,
Teu coração repousa nas persianas de luz,
Das hortências da ilha.
Um deus vem e traz nas mãos enternecidas
Um pedaço de lava e um açor errante
Que sabe os segredos dos altos cumes da montanha.
Nos teus olhos adivinhar-se-á sempre
O mais seguro caminho do êxtase e do degredo,
Do recolhimento e da dádiva,
Da alegria e do prodígio.


Hugo Santos