quarta-feira, 30 de novembro de 2005

É hoje!!!

Chegou o grande dia!
Para quem, como eu, é um aficionado da musica, cinema e literatura, e consegue ficar horas em lojas como a FNAC, existem 2 dias de culto no ano.
São os dias em que a FNAC oferece descontos em quase tudo o que vende, aos seus utilizadores frequentes. E é hoje o grande dia...já reservei a tarde, a verba e uma "pequena" lista de títulos!!!

terça-feira, 29 de novembro de 2005

À espera












Foto by Filipe Palma

segunda-feira, 28 de novembro de 2005

Azul Profundo

domingo, 27 de novembro de 2005

Gin






Não bebi o meu último copo de gin
por ser já madrugada na ilha.
Velhos falavam das Américas
matando sedes antigas
no gin de todos os tempos.
Americanos falavam de ilhas perdidas,
perdidos num mar de gin.
E um simples copo
aquele que deixei por beber,
embebedou-me a vida,
derramou-se sobre a ilha.
Hoje aqui estou
de copo vazio
nesta ilha que não é,
nesta vida sem gin
tudo por culpa da tal madrugada
em que não bebi o meu último copo de gin

Anticiklone

Woman in Black





















Foto by X Maya

Boa Vida

Afreudite

Da mistura do romantismo da deusa do amor Afrodite, com o tecnicismo sexual de Freud, só poderia surgir um conceito afrodisíaco.
De facto, neste restaurante situado na zona nova da Expo, tudo leva os sentidos assumidamente para o romantismo e erotismo. O ambiente "alternativo", a média luz, as velas e os incensos, o erotismo da ementa e o atendimento jovem, fashion e malandro, conduzem-nos suavemente através da refeição.
Aconselhável "apenas" para pares apaixonados, é uma excelente escolha para levar alguém especial. Depois da "gula" aconselho um passeio nocturno pelo Parque do Tejo (que fica logo ali ao lado) antes do "resto da noite"...

Ilhas de Bruma





















Foto by Paulo Lourenço

sábado, 26 de novembro de 2005

Terras de Lava













Foto by Rui Vieira

Power Play

E aí está ele! Para quem acompanha (e gosta) dos portugueses CLã, este é um album esperado já há algum tempo.
Apesar de não ser um fim ou um virar de página e apesar de dizerem que não tem idade para "best-ofs", o que é certo é os Clã já deviam um album assim aos seus fãs e ao mundo.
Quer nos seus albuns de originais, quer em covers ou em colaboração com outros artistas, tudo o que é produzido pelos Clã parece tornar-se em música de excelente qualidade, por isso era já grande a lista de sucessos que a banda dispõe para colocar ao rubro plateias inteiras.
É isso que se traduz neste disco ao vivo gravado entre 2000 e 2004 em locais tão díspares como o Hard Club, C.C. Olga Cadaval, Aula Magna e Queima das Fitas, salientando-se a consistência de uma banda que junta a perfeição do estúdio com o rigor do palco.
É uma das minhas bandas preferidas e este é um disco de culto...para escutar com insistência.

Woman in Black

Tema de Amor


Esta rosa que te ofereço,
é um dom que não tem preço
é a flor que em mim plantaste.
São pétalas são espinhos
que enfeitam os caminhos
do coração que assaltaste.
Há um jardim em teus olhos
feito de ternura aos molhos
e encantos de promessas…
hei-de ser o jardineiro
que cultiva a tempo inteiro
esse canteiro de esperanças.
Virão chuvas, virão ventos,
virão temporais aos centos
pra murchar nosso desejo,
esperamos pelo Sol
como quem busca o farol
que anuncia o novo porto,
navegaremos os medos
como quem desfaz enredos,
que a vida sem aventura
é pássaro sem ninho,
é uva eu não dá vinho,
é um mal que não tem cura.
Esta rosa que te ofereço
é um dom que não tem preço
é o amor que em mim plantaste.

António M. Sousa

Azul Profundo















Foto by Claudio Fernandes

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Ilhas de Bruma















Foto by Rui Lorenço

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Ondas

Sto Cristo - Foto by Rui Vieira

Já nem sei quando começou o meu fascínio pelo mar...provávelmente foi ainda antes dos 5 anos.
Lembro-me desde sempre de brincar na praia como se fosse o meu quintal. A malta da "Bombardeira" sempre fez de Porto-Pim o seu recreio e era lá que tudo se passava principalmente de Verão, mas também no Inverno.
Mas era na meia estação que a praia ganhava adrenalina. Em finais de Setembro e início de Outubro, quando os dias já eram pequenos mas a água ainda apetecia, quando a areia já não escaldava e os ventos começavam a soprar.
Eu e a malta da praia sentíamo-nos herois, quando já ninguém frequentava Porto-Pim e todos nos chamavam de loucos por desafiar as leis sociais que dizem que praia é no verão. Era o tempo em que os ventos começam a soprar e as ondas a crescer.
Foi num desses Outonos que algum de nós apareceu com uma mini prancha de esferovite. Nessa altura o surf não era uma moda, aliás nem conhecíamos essa palavra, nem body-board, nem fatos nem revistas de surf, nem sequer se usava a palavra "ondas", eram "vagas"...no mais duro e puro sentido da palavra.
Foi portando um amor inocente e puro, não foi pelo status ou pelo kitch, que nesse tempo o surf não era bem...era loucura. Com uma prancha de esferovite dividida por cinco ou seis malucos, fizémos prolongar o Outono desse ano e foi aí que aprendi a ter respeito pelo mar embravecido e a sentir o prazer de o dominar. Sentir a corrente a puxar-me para trás, sem ter medo de me deixar levar até ao momento exacto de me lançar para a frente da rebentação e com um impulso em sintonia com a onda, descer a parede de água...dominar a velocidade da prancha e a força bruta de toneladas. O som é ensurdecedor, o cheiro a maresia inebriante, a velocidade é quase mortal, a concentração tem de ser total e a sensação é...única!
Anos mais tarde consegui a minha própria prancha e alarguei o meu horizonte de praias. Aprendi a conhecer a onda clássica do final de dia em Porto-Pim...redonda, longa e suave. Ou então a imprevisibilidade da onda da Fajã, a força das direitas do Almoxarife e a corrente das esquerdas da Alagoa. Conheci o éden da fajã de Sto. Cristo e quando fui estudar para o Porto ainda fui apanhar umas ondas a Leça.

Almoxarife - Foto by anticiklone


Praia do Norte - foto by anticiklone

Poente

Há um tempo em que o tempo pára,
em que o Sol vai fazendo ouro no fim do dia,
em que a areia fica macia como seda,
em que o ar tem outro peso e outra cor.
Há um tempo de ouvir o mar chegando
morrendo devagarinho na praia,
cantando preguiçosamente o princípio da noite
e enchendo de sossego o momento mais doce.
Há um tempo de voltar para terra
de sentir o corpo doendo,
de baixar a prancha e ver o reflexo das ondas navegadas
e as que continuam por navegar.
É esse o tempo mais bonito
é esse o tempo que fica dentro de nós
é o tempo em que o mundo adormece
é o tempo que deveria ficar para sempre.

T.

segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Terras de Lava

Ilhas de Bruma

Power Play


Provavelmente pouca gente conhecerá a figura peculiar de Seu Jorge. Para alguns se calhar o primeiro contacto terá sido no filme de Wen Anderson "The Life Aquatic Whith Steve Zissou" onde desempenhou o papel de um marinheiro com mania de cantor. Para a maioria talvez seja o tema "Tive Razão" que começa a passar com alguma frequência na MTV, suportado por um vídeoclip em que Seu Jorge personaliza um pedinte a tocar violão em frente a uma igreja, onde o padre é Bill Murray e um dos ouvintes é William Dafoe.
O que é facto é que Jorge começa finalmente a ser reconhecido pela sua música pura e crua, á semelhança dos ambientes por onde se moveu na infância (favela).
Num disco "Cru" com influências funk, reggae e rock, Seu Jorge afirma-se definitivamente como uma das referências da nova vaga brasileira.
A rodar com insistência no meu leitor de CDs.

sábado, 12 de novembro de 2005

Amor Azul





















Este céu assim Azul
sem mais nada que a cor Azul
foi feito para esta paisagem
foi feito para este não pensar.
De mãos dadas e passo lento
nós em frente ao mar
que era um pedaço de céu
assim Azul.
Não falámos, sentimos.
No ouro daquele silêncio
juntámos um mar de fantasias
com um céu de sonhos
e ficou um Azul de ternura.
Uma gaivota passou bebendo o azul,
o mar cantou mais alto,
o céu ficou maior
e nós sem saber
se éramos céu
se éramos mar
se éramos nós…

Mais perto do céu

sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Perfil

Difícil falar de nós...mas ando por aí, pelo mundo, a aprender a conhecer-me. Gosto de Mar...ADORO, e tudo o que tem a ver com ele. Gosto de uma manhã de sol, do Nascer do Sol, de finais de tarde de calmaria...a ver o pôr do sol de preferência na praia. Não gosto de praias cheias. Gosto de inícios de noite na esplanada. Gosto de noites de vendaval quando estou no meu sofá a ver televisão. Gosto de uma cama acabada de fazer, gosto de acordar agarrado a alguém...gosto de pequenos almoços...não gosto de almoços de trabalho. Gosto de jantares á luz de velas, gosto de mulheres sensíveis mas divertidas, simples mas com charme e classe, românticas, femininas e muito meigas...não gosto de gente irresponsável ou que hoje é e amanhã já não é...Gosto de gente despreocupada mas com valores e personalidade forte. Adoro aquilo que faço...faz-me sentir util e ajuda-me a dar valor áquilo que realmente merece. Amo os Açores. Gosto de Lisboa e do porto, de Sintra e de Cascais. Gosto da Figueira da Foz, da Ericeira e do Portinha da Arrábida. Não gosto do interior do Alentejo. Gosto do Gerês, não gosto do Algarve no Verão. Gosto de Barcelona, de Edimburgo e de Dubrovnik. Não gosto da arrogância dos Belgas nem da distância dos Alemães. Gosto de Praia. Não gosto de deserto. Gosto de viajar, de me misturar e experimentar os costumes dos sítios onde passo. Não gosto de regatear. Gosto do anonimato das grandes cidades e da familiaridade das pequenas vilas. Não gosto de turistas de garrafão. Gosto de aeroportos e de navios. Gosto do meu carro. Não gosto de carros grandes. Gosto do frio mas prefiro o calor. Não gosto de chuva miudinha, prefiro chuvada grossa e breve. Gosto de desporto, principalmente de futebol, basket e vela. Não gosto de golf nem de motocross. Gosto do Sporting…mesmo quando perde. Gosto de livros e de jornais. Gosto de poesia e de romance. Gosto de Ary e de Fernando pessoa. Também gosto de contemporâneos. Não gosto de Milan Kundera nem de Henry Miller. Gosto de cinema. Não gosto dos comedores de pipocas no cinema. Gosto da sessão das dez no monumental e no Vasco da Gama, seguida de um copo e passeio pela parque das nações. Não gosto das sessões da meia noite, especialmente no Colombo. Gosto de filmes esquisitos, de drama e terror psicológico, mas também gosto de comédia. Gosto de Lars Von Trier, Kubrick, Spilberg e Polanski. Não gosto de Manoel de Oliveira. Gosto de Robert de Niro, Benício Del Toro e Nicole Kidman. Não gosto da Angelina Jolie. Gosto de fotografia. Não gosto de pintura mas não me importava de ter um Matisse lá em casa. Gosto de televisão, do Seinfeld, Gato Fedorento e CSI. Gosto da SIC e dos canais temáticos, National Geografic, Historia e People and Arts. Não gosto dos programas da manhã e da tarde. Gosto de quase todo o tipo de música. Não gosto do que vai do hard ao trash. Gosto de Gift, Clã, Mafalda Veiga, Entre Aspas, Rui Veloso e Jorge Palma. Não gosto dos pimbas. Gosto de Morcheeba, Goldfrapp, Coldplay, Black Eyed Peas, Leny Kravitz. Não gosto de Rasmus nem de Green Day. Gosto de U2, Supertramp e Pink Floyd. Gosto muuito da nova vaga de brasileiros, Djavan, Lenine, Adriana, Jota Quest, Skank, Lulu Santos e Seu Jorge. Gosto de Caetano e Gil. Não gosto de forró. Gosto de dança. Já não gosto muito de discotecas. Prefiro ficar num bar a conversar até tarde. Gosto das manhãs de Sábado. Não gosto dos Domingos á tarde. Gosto de jeans e ténis mas conforme a ocasião também gosto de blazer ou fato. Não gosto do estilo escola de circo ou pseudo-intlectual de esquerda. Gosto de ver uma mulher bem vestida. Gosto de vê-las de estilo casual chic, desportivo e clássico. Gosto do número 9 e da cor azul. Gosto de gente distraída e despreocupada. Não gosto de arrogantes, egoístas e forretas. Não gosto de ambiciosos. Gosto de gente equilibrada e emocionalmente estável. Não gosto de depressivos e de gente com a mania da perseguição. Gosto de liberdade. Não gosto de extremistas. Não gosto de violência, mas gosto que se cumpram as regras. Gosto da espiritualidade. Não gosto de seitas. Gosto de valores: família, amizade, lealdade e tolerância. Não gosto de monotonia. Gosto de crianças. Gosto da minha família e dos meus amigos. Gosto de sonhar. Acho que gosto de ser assim como sou…

quinta-feira, 10 de novembro de 2005

Terras de Lava

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

Arquitectura

Traço planos
com a minúcia
do arquitecto que esboça
a futura construção,
apoiado na técnica transmitida
pela experiência e tradição,
esquecido que o destino
às vezes
tem os seus revezes
e manda tudo ao chão

Herosto

domingo, 6 de novembro de 2005

A cidade mais bela

Exilada

Metade de ti é fria…
metade de ti é quente…dizes que vais temperando.
Já não vestes a tua camisola de lã muito grossa
e caminhas pela beira d’água.
E fica em ti nesse caso,
fica em ti o pressentimento dos dias longos
imensamente longos e até dormentes.
Vives no calor subterrâneo da cidade grande,
no centro da terra…a ferver.
Passam-te o Ás de trunfo por debaixo da mesa
e ficas com o jogo todo.
Mas sei que sabes, sabes que sei
que passas as noites a reinventar os dias,
a navegar no escuro.
Os teus sonhos ardem, sei que ardem…
sonhas em caminhar pela beira d’água
com a tua camisola de lã muito grossa,
em voltar para o teu jogo de ternos e quadras.
Reina talvez a tranquilidade na cidade toda,
guarda os sonhos para quando acordares.
A noite não é um bicho de sete cabeças…nem a noite,
por isso se te olharem nos olhos no escuro, de repente…
pode ser que não seja o lobo mau!

Ilhas de Bruma

Ainda Sinto os pés no terreiro
em que meus pais bailavam o pezinho,
a bela aurora e a sapateia
é que nas veias corre-me basalto negro
e na lembrança vulcões e terramotos.
Se no falar trago a dolência das ondas
o olhar é a doçura das lagoas
é que trago a ternura das hortênsias
no coração a ardência das caldeiras.

Trago o roxo, a saudade, esta amargura
só o vento ecoa mundos na lonjura
mas trago o mar imenso no meu peito
e tanto verde a indicar-me a esperança
é que nas veias corre-me basalto negro
no coração a ardência das caldeiras
o mar imenso me enche a alma
tenho tanto verde a inundar-me a esperança.
Por isso é que eu sou das ilhas de bruma
onde as gaivotas vão beijar a terra.

Manuel Medeiros Ferreira

Terras de Lava

Power Play (1)

Açores 7 anos de música

Este foi um dos primeiros discos que comprei no formato CD e acompanha-me até hoje.
É uma colectânea de temas das séries produzidas pela RTP-A, contando com nomes como Álvaro de Melo, Victor Rui Dores, Carlos Frazão, Aníbal raposa, Paulo Andrade, Minela, Álamo Oliveira e os ícones Luís Bettencourt, Zeca Medeiros e Susana Coelho.
Entre outras excelentes musicas destaco "Tema de Amor", "Canção de Pedro F.", "Bailado da Garça" e o hino "Ilhas de Bruma".
O CD já rodou horas e horas e vai continuar a rodar pois as canções continuam actuais e revelam muito do espírito e da alma Açoreana.
Um disco épico e intemporal para rodar por gerações.

Biografia

Nasci no Faial no final de uma tarde de Julho.Filho único de uma família tradicionalista, não muito grande mas unida e com raízes sólidas no triângulo, herdei daí desde logo o espírito insular com mãe do Pico e pai meio Faialense meio jorgense.Ainda recém nascido fui morar para as Lages do Pico onde fiquei até aos 2 anos mas desse tempo não consigo ter recordaçãoes, apenas algumas fotografias dos meus pais me fazem imaginar essa época.Depois viémos viver para o faial e aí fiz toda a minha infância, primeiro na Feteira e a partir dos 4 anos na Horta pois claro. Até ao final da escola primária, fui feliz entre o cais a escola da canada e a praia de porto pim, que viria a ser o meu primeiro grande amor...De facto, por morar a 2 passos, aquela praia foi o meu páteo de recreio e fez parte da minha vida (ainda hoje faz).Com a entrada primeiro para o ciclo e depois para o Liceu, o meu mundo cresceu. Foram os bons tempos desse grande grupo de herois das Angústias que reinou desde o Largo do Infante até ao pasteleiro, impondo o seu poder nas saudosas arcadas do Liceu, nas noites da marina, e óbviamente na praia de Porto-Pim.Foi lá (na praia) que brinquei ás pedrinhas, que desenvolvi elaboradas técnicas de construcção de castelos de areia e aprendi que que o mar os leva todos. Foi em Porto-pim que compreendi a limitação da ilha e o significado de horizonte, foi lá que comecei a amar o mar, que dei o meu primeiro beijo, que fumei o primeiro cigarro e provavelmente terá sido lá que pela primeira vez compreendi o sabor do corpo feminino.Foi também durante esses anos de saudável rebeldia que O GRUPO se afirmou noutros grupos: escoteiros, acólitos, Atlético...Depois veio a inevitabilidade do crescimento. A malta cresceu e teve de vergar-se ao peso das regras da vida adulta e com isso veio um destino traçado para todos os que nascem nas ilhas...a separação. O liceu acaba, uns ficam outros saem da ilha, alguns voltam...outros não! Foi um momento difícil. Desde há longos anos que teimosamente a ideia de ser médico me perseguia e chegara o momento...não foi possível adiar mais a separação da ilha...entrei em medicina no Porto e não me dei mal. A Invicta acaba por ter um estilo muito próprio, o seu bairrismo, a sua personalidade forte e identidade bem definida, fazem da cidade uma ilha grande. Talvez por isso me dei bem naquela minha segunda ilha.

Não posso negar que por uns anos encarnei mesmo o espírito tripeiro...vivi entre as Antas e a Ribeira, entre Cedofeita e a Foz. Amei a névoa do Porto e a sua chuva miudinha, as suas mulheres carnudas e o seu praguejar. Fiz compras no Bolhão e passeei em Sta Catarina, estudei no piolho e lambuzei-me nas francesinhas do Kappa Negra, embebedei-me nos bares da ribeira e frequentei os ambientes alternativos muito "underground" da zona velha, namorei nos jardins do palácio e beijei ao som do Abrunhosa. Tantas vezes dancei no Swing e no Cais 447 que eram onde a malta estudante sem carro podia ir por haver linha dos STCP. Nunca fui do FCP mas cheguei a ir á bola ver o espectáculo que são as Antas em Domingo de jogo.

Tirei o curso no ICBAS e por uma questão de proximidade relacionava-me muito com a malta do FCDEF, de Ciências e de Engenharia. Sobretudo estudantes das ilhas ou de fora do Porto, que eram os que ficavam na Invicta ao fim de semana. Como bom estudante que se preze, adoptei as regras da paxe académica, andei em serenatas e manifestações contra as propinas. nos primeiros anos tinha um bom núcleo de colegas: um madeirense um bracarense um vimaranense e um alentejano exilado em Paços de Ferreira. Éramos da mesma turma, tínhamos os mesmos ideais, chumbámos as mesmas cadeiras, copiámos pelas mesmas cábulas, defendemos as mesmas causas académicas, cantámos ás mesmas mulheres...(hoje está um em cada canto do país. É mais um grupo que se desfez...)

Acabei o curso, queimei fitas e voltei para as ilhas, que esse era o meu destino desde o princípio, mas uma parte de mim ficou no Porto...uma parte de mim ainda é Porto. E ainda me emociono ao ouvir "Prto Sentido" do Rui Veloso.

E foi então que me assaltaram pensamentos que nunca tivera. Sendo faialense convicto, nunca sequer pusera como questão, onde faria a minha vida. Porém, agora que o grande momento de voltar a casa estava prestes a acontecer, tinha medo de me desiludir e de acabar por abandonar a ilha dos meus sonhos.

De facto, comecei a compreender que o Faial da minha juventude e das férias anuais, não seria o Faial do dia a dia. Grande parte da malta do grupo também só lá estava nas férias e profissionalmente sabia que iria me acomodar numa altura que devia inovar. No fundo, presenti que o meu sonho intenso de Faial poderia ruir e isso significaria sair da ilha para não voltar...por isso, qual noivo á beira do altar, tive dúvidas e resolvi adiar.

Mas a minha dependência pelo mar e pela bruma das ilhas não me deixou voltar para o continente. Optei pelo meio termo e fui para a Terceira. Sem tantas limitações como numa ilha pequena, nem com os defeitos das ilhas grandes, aliado ao facto de já ter lá família, acabou por ser a escolha certa.

De início foi estranho já que 6 anos e meio de cidade grande cheia de oportunidades, deixam vícios e hábitos difíceis de subtituir. Mas ao fim de 2 ou 3 meses comecei a compreender e admirar a maneira de ser e os costumes dos terceirenses. Lentamente fui-me integrando completamente e no final dos 2 anos de internato geral, sentía-me em casa, tinha feito novos amigos, estava rodeado de pessoas de quem gostava e penso que de alguma maneira também gostavam de mim. Foi um tempo de paz, condimentada até por algumas paixões. Também em termos profissionais a vida corria bem, gostava do que fazia e gostavam do meu trabalho.

E eis que nova decisão se impunha. Que especialidade escolher? Após 3 meses de indecisão acabei por entrar na especialidade que hoje vejo ser outra das paixões da minha vida.

Com a angústia crescente de quem sabe que vai ter de se afastar novamente da ilha, vivi intensamente o primeiro ano da especialidade e último antes de voltar ao continente. Pelo meio uma paixão no Faial, que me aproximou novamente da ilha dos meus sonhos e me levou a pensar que o destino tinha os seus desígnios traçados para me levar definitivamente para o Faial.

Mas inesperadamente, qual maré vazia tudo acabou, numa noite de Verão em pleno Faial, deixando ferida a sangrar no chão antes imaculado da ilha. E para colmatar a minha tragédia de Verão, este não havia de acabar sem a catastrófica chamada para cumprir serviço militar obrigatório.

Em Setembro, irónicamente no dia seguinte ao trágico 11 de Setembro, ainda com o coração despedaçado, deixei tudo e todos os que gostava, fui integrado na escola de fuzileiros. Supostamente estas são tropas especiais, onde só fazem curso de oficiais os cadetes voluntários e seleccionados por provas físicas exigentes, mas por um erro administrativo, eu que deveria ter ido para a escola naval, fui integrado na escola de fuzileiros para fazer parte da turma de cadetes oficiais até jurar bandeira. Tempos difíceis aqueles...principalmente em termos psicológicos. Seis semanas de grande exigência para voluntários bem preparados, imagine-se para mim. Foi um período demasiado penoso que cumpri, com muita dor e confesso que com algumas lágrimas. No final saí de lá mais duro e amargo, mas tirei algumas lições importantes e senti até algum orgulho em ter conseguido.

O resto do serviço militar fi-lo no mar...pois claro. Depois do período negro que acabara de cumprir e claro que sabendo que o mar corria nas minhas veias, nem tive dúvidas quando me deram como opção ficar num centro de saúde naval em Lisboa ou embarcar nos navios da Armada. Fui destacado para as corvetas que patrulham as águas da zona económica exclusiva portuguesa.

Durante quase 5 meses de Inverno vivi a bordo do "NRP António Enes" e "NRP Augusto Castilho", sulcando os mares dos Açores. Acabou por ser um período marcante na minha vida. A quantidade enorme de sentimentos diferentes do habitual que a imensidão do mar nos proporciona, foi como um retiro espiritual. Uma retrospectiva e virar de página na minha vida, feita naturalmente no elemento que faz parte de mim e me me acompanha toda a minha vida...o mar.

Voltei a terra diferente. Voltei á terceira para esgotar os 4 meses que me restavam do 1º ano de especialidade, mas já com Lisboa no horizonte.

No verão de 2002, o destino cumpriu-se e mudei-me para a capital, pelo menos pelos 4 anos que faltavam para terminar a especialidade.

Foi novamente um período difícil, mas depois dos fuzileiros e da marinha, a minha maneira de encarar a vida mudara e agora a importância de viver um dia de cada vez, saboreando cada pequeno momento, permitiu-me aderir sem resistência ao meu novo estilo de vida.

E aqui estou há quase 4 anos, com base em Lisboa mas rodando por esse mundo, qual cavaleiro andante. A vida tem-me corrido bem...e tenho feito por isso.

O trabalho satisfaz-me e orgulha-me, mas o meu maior prazer é saber VIVER, é aprender com cada doente que trato, com cada mulher que beijo, com cada amigo que faço, em cada novo lugar que conheço, em cada nascer do sol...um dia de cada vez, todos esses pequenos bocadinhos vão fazendo crescer o meu coração. Porque como dizia Vitorino nemésio: "...nós açoreanos não temos medo que o mar nos alague nem que a terra nos falte, porque temos sempre presente que a terra é curta...e o tempo mais curto ainda"

quarta-feira, 2 de novembro de 2005

Sombra (eu)


Sombra

Na noite calada e quieta
como um grande segredo,
navego na penumbra.
Metade da minha vida
foi passada aqui,
entre a noite e o dia
entre o sol e a lua
entre o céu e o mar!
Enquanto não amanhece
escrevo a minha canção
e o que a imaginação me revelar...
Um dia, ninguém saberá
onde começa e acaba a verdade,
onde se põe o sol e nasce a lua,
ninguém saberá...
se sou dia ou noite!!

O início III



Porquê este blog, porquê Terras de Lava?

Porque é de lá que venho! Das terras de lava, onde o azul é mais azul e o verde é mais verde. Onde o fogo e a lava se misturam com o mar, e é isso que rege toda a minha vida: a dualidade...entre o fogo e a água, entre o céu e o mar, entre o vento e a chuva.

Os Açores são a minha essência e apesar de andar por aí, por esse mundo cada vez mais pequeno, é lá naquelas ilhas que o meu espírito descansa sempre e é lá que há um sítio onde a paz é uma realidade e para onde posso voltar sempre.

É compreendendo os Açores que me conheço a mim próprio e é por isso que para todo o lado onde vou, em tudo o que faço e em tudo o que sinto, respiro Açores...sou Açores.

Terras de Lava

O início II

Dantes era apenas o azul...azul de mar e céu, azul de bruma rasgada pelo vôo das gaivotas...azul tranquilo.
E eis que fez-se silêncio por quase um dia.
O vento não soprou, as águas do mar não mexeram, as gaivotas não voaram e as nuvens não passaram.
E então houve um grande tremor de terra, o Céu retirou-se como um livro que se fecha, o Sol tornou-se negro, a Lua tornou-se como sangue e as Estrelas caíram sobre o mar. Ventos ciclónicos levantaram-se de todos os quadrantes para se cruzarem neste ponto do Atlântico e o mar tornou-se subitamente um monstro feroz.
Do mar subiu uma coluna de fumo negro que escureceu o ar e houve depois trovões, relâmpagos e terramotos. E atrás do fumo veio uma saraivada de fogo...o mar abriu-se cuspindo colunas apocalípticas de fogo, que coloriram de sangue as águas.
E por sete dias e sete noites o fogo e o mar coexistiram frenéticamente.
Quando o mar temperou o fogo, calaram-se os trovões e pararam os tremores...lentamente o céu voltou a abrir-se e o sol voltou a ser luz.
E foi então que emergiram ilhas...AS ILHAS.
Algures entre o fogo e o mar, a meio caminho entre a terra e o céu.