sexta-feira, 21 de julho de 2006

Lisboa Comvida


Foto by Mário Sousa

Abri a janela de par em par
A vista é cortada pelo edifício em frente do meu
O ruído da rua é, por vezes, difícil de suportar
Mas assim sempre vai entrando algum ar
Como eu gostava de um dia abraçar
Aquela actriz que acabei de ver na televisão
Dava tudo o que tenho só para ter um cantinho no seu coração
Mas as estrelas nunca sorriem aos da minha condição
Saí do cinema tentando imitar
O modo de andar e a maneira de olhar do actor principal
Quando entrei no autocarro
Evaporou-se-me o sonho e caí em mim
As coisas são sempre tão diferentes na vida real
Às vezes sou levado a pensar
Pode haver um engano nessa coisa da distribuição
Passo os dias inteiros no trabalho e mal ganho para comer
Mas isto é um problema meu
E eu devo ser capaz de o resolver
Vivo em Lisboa
Tu sabes bem quem eu sou
Eu sou aquele com quem tu te cruzas
Numa esquina qualquer
E, às vezes, também tomo comprimidos
Para conseguir adormecer
Vivo em Lisboa
Tu conheces-me bem
Também eu tenho um lugar reservado
Neste eterno vaivém
Sou mais um cartão numerado
Que a cidade retem

Jorge Palma