
Foto by Alfredo Monteiro
Um deus errante atravessou o vale
Com suas vagarosas sandálias de silêncio.
Não tinha rosto nem voz
Nem o corpo leve e ondolante de alguém
Que viesse anunciar prodígios.
Sentou-se numa pedra,
Dedilhou o seu violino de ventos
E deixou na luz rósea do poente
O rasto transparente de duas mãos
Amparando o dia que findava.
Indefeso como a brisa, conta-se,
Perdeu-se pelo rumor das sombras
Que desciam dos mais altos cedros da colina.
Tinha, sei-o, os olhos lúcidos e tranquilos
Dum catalogador de naufrágios.
Hugo Santos